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Uma investigação sobre os impactos do plástico no maior peixe de rio do mundo
Maior peixe com escamas de água doce do mundo, o pirarucu (Arapaima gigas) é uma espécie emblemática dos rios amazônicos. Mesmo com todo seu porte, um corpo que pode ultrapassar dois metros de comprimento e pesar 200 quilos, o pirarucu nada pode fazer contra uma ameaça que vem em muitas formas, cores e tamanhos: os resíduos plásticos. Inúmeros estudos já comprovam a vulnerabilidade dos peixes à ingestão desses resíduos, porém ainda há lacunas de conhecimento sobre como essa contaminação afeta os predadores de topo desses rios, como o pirarucu. Essa é uma das perguntas que move a pesquisa da bióloga Eletuza Uchôa Farias, doutoranda da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e uma das selecionadas de 2024 pelo Programa Bolsas FUNBIO – Conservando o Futuro, por meio do Programa Fonseca Leadership (Programa Fonseca de Liderança, em tradução livre), criado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, sigla em inglês).
A pesquisadora conta que o rio Amazonas é um dos principais transportadores de resíduos plásticos para os oceanos, mas pouco se sabe sobre o que acontece com os resíduos que ficam retidos no rio e seus afluentes, e seus impactos para os peixes que vivem nesses ambientes. “Estudos realizados na Amazônia sobre a ingestão de resíduos plásticos já evidenciam a vulnerabilidade da ictiofauna. Mas quando se trata de peixes grandes, predadores de topo, como o pirarucu, não há informações”, explica Eletuza.
Compreender essa relação é fundamental uma vez que o pirarucu possui uma grande importância cultural e econômica na região amazônica, sendo amplamente apreciado e consumido pela população.
“Será que os pirarucus oriundos de áreas instituídas como unidades de conservação já estão ingerindo resíduos plásticos? A ingestão de resíduos difere entre as fases adulto e juvenil? Além do trato digestório, que é a entrada mais comum de resíduos plásticos para os organismos aquáticos, há ocorrência de partículas plásticas em outros órgãos?”, questiona a doutoranda da UFAM que segue em busca das respostas com o apoio do FUNBIO.
Com os recursos do Bolsas, ela irá a campo para Ilha da Paciência, localizada no rio Amazonas, no município de Iranduba (AM), durante a época de manejo do pirarucu, que ocorre entre novembro e dezembro. Além disso, o apoio também permitirá que a pesquisadora faça análises laboratoriais para detectar e identificar a presença desses resíduos plásticos em diferentes tecidos do pirarucu. Os resultados obtidos serão compartilhados com as comunidades e os órgãos competentes, com o objetivo de contribuir para a gestão ambiental e a qualidade de vida das comunidades ribeirinhas que fazem uso destes recursos. “Além de contribuir para a manutenção de populações do pirarucu e outras espécies pertencentes à Bacia Amazônica”, completa a pesquisadora.
Para fazer esse trabalho, a pesquisadora irá a campo, conhecer os pescadores e mulheres que fazem parte do manejo do pirarucu para também aprender com eles enquanto estuda os peixes.
“Eles são fundamentais para que o manejo funcione. Aprendemos muito com eles e eles estão sempre abertos para aprender conosco também. E através dessa parceria, dessa comunicação, espera-se que a pesquisa que está sendo desenvolvida reforce nas comunidades e nos pescadores a sensibilidade sobre o pirarucu como um recurso pesqueiro que precisa de cuidado. E para isso, espera-se estimular o descarte correto do lixo, principalmente os de origem plástica, dada a onipresença dos resíduos plásticos nos ambientes aquáticos, configurando um problema ambiental”, explica Eletuza.
Para além dos muros da universidade, a bióloga acredita que sua pesquisa pode colaborar com o manejo e conservação do pirarucu, e no incentivo à uma economia circular, com reaproveitamento e uso de materiais plásticos duráveis.
A seleção como uma das beneficiadas pelo Bolsas FUNBIO 2024 dá ainda mais combustível para Eletuza avançar em sua pesquisa. “Eu fiquei muito orgulhosa de mim mesma! É um reconhecimento de que eu estou fazendo um bom trabalho como pesquisadora”, comemora.