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29/03/2024

Um novo olhar para árvore que dá nome ao Brasil

foto: arquivo pessoal
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Poucas árvores são tão emblemáticas para um país como o pau-brasil. Além da relação mais óbvia de dar nome a quem somos, a cobiça por essa madeira determinou parte da nossa história enquanto nação. Considerado o primeiro tesouro florestal do Brasil, a corrida pela árvore, da qual se extraía um pigmento vermelho para tingir tecidos, foi um dos motores para a destruição da Mata Atlântica. Após cinco séculos de intensa exploração, sobraram poucas testemunhas desta espécie, classificada atualmente como em perigo de extinção. Em seu projeto de pesquisa, ainda em andamento, apoiado pelo Bolsas FUNBIO – Conservando o Futuro, a botânica Patrícia Rosa busca os últimos remanescentes selvagens dessa árvore tão valiosa.

O trabalho da doutoranda da Escola Nacional de Botânica Tropical do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (ENBT/JBRJ), uma das bolsistas selecionadas em 2021, em mapear os paus-brasil sobreviventes, tem como finalidade fazer uma avaliação integrada do estado de conservação da espécie.

A pesquisa tem relação com a descoberta botânica recente de que o pau-brasil (Paubrasilia echinata), tem cinco linhagens distintas: pau-brasil-folha-de-arruda-nordeste, pau-brasil-folha-de-café, pau-brasil-folha-de-laranja, pau-brasil-folha-de-arruda-BA e pau-brasil-folha-de-arruda-RJ. Cada linhagem possui características genéticas distintas, porém ainda dentro do mesmo guarda-chuva, neste caso, da mesma espécie.

O pau-brasil-folha-de-arruda-RJ, por exemplo, é uma linhagem exclusiva do estado do Rio de Janeiro, por onde Patrícia fez diversas idas a campo entre 2022 e 2023, que permitiram identificar seis novas subpopulações da espécie em território fluminense (ao todo são 43).

“O estado do Rio de Janeiro é importante porque é a distribuição geográfica mais austral [ao sul] do pau-brasil”, explica a pesquisadora. A ocorrência da árvore, nativa da Mata Atlântica, estende-se até o Rio Grande do Norte. 

Entre novembro e dezembro do ano passado, a botânica liderou uma expedição de 25 dias pela região nordeste – da Bahia ao Rio Grande do Norte – , com uma passagem pelo Espírito Santo em busca de populações das outras linhagens. Nesse campo, Patrícia identificou quatro novas subpopulações de pau-brasil.

Nessa jornada, Patrícia já percorreu mais de sete mil quilômetros. Os locais foram definidos por modelos de similaridade e adequabilidade ambiental, feitos em parceria com o pesquisador Dr. Frederic Mendes Hughes da Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia.

As idas a campo visam registrar as populações remanescentes,  ampliar a amostragem, identificar ameaças e ações de conservação.

“Nós fizemos um trabalho de entrar em contato com atores locais; prospectar novas populações [da espécie]; levantar dados das populações relacionados à estrutura, como presença de plântulas, juvenis e adultos; e verificar o tamanho dos fragmentos que contêm pau-brasil”, detalha a pesquisadora.

O objetivo principal é conhecer o estado de conservação de cada uma das cinco linhagens de pau-brasil a partir de análises de dados de distribuição geográfica, modelagem de nicho ecológico e aplicação de novos critérios da metodologia da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), responsável pela elaboração da Lista Vermelha internacional de espécies ameaçadas.

Se o advento dos corantes artificiais diminuiu a pressão pelo pigmento vermelho extraído da madeira do pau-brasil, por outro lado, a árvore continua sendo objeto de cobiça e extração ilegal, agora pela indústria dos violinos que considera sua madeira “ideal” para a produção de arcos.

“A maior contribuição que pretendemos é a reavaliação do estado de conservação da espécie, como um todo, mas também das linhagens. Porque isso é uma novidade para a comunidade dos conservacionistas. É um desafio teórico para aplicação pensando nos conceitos da IUCN”, explica Patrícia.

A escolha do pau-brasil para esta empreitada científica pioneira, não é uma coincidência. Afinal, a árvore é uma das espécies da flora brasileira com maior conhecimento acumulado. “O pau-brasil tem condições  de ser um modelo ideal para gente avançar em metodologias, técnicas e também num resultado inovador para o risco de extinção da espécie, que permita buscar soluções mais otimizadas para retirar a espécie da Lista Vermelha”, acrescenta a botânica. Essa reavaliação do estado de conservação será feita no sistema Proflora em parceria com o CNCFlora/JBRJ. 

Além de se debruçar sobre os riscos de extinção de cada uma das linhagens que compõem a população de pau-brasil, Patrícia também pretende avaliar como as mudanças climáticas podem afetar a distribuição da árvore no país e projetar o futuro das linhagens no território. 

Os dados compilados pela botânica serão enviados aos órgãos oficiais nacional e internacional para subsidiar políticas públicas de conservação para as cinco linhagens, com o reconhecimento dos riscos de extinção que rondam cada uma delas e direcionando as ações necessárias para garantir sua sobrevivência.

“Esses resultados [da pesquisa] ficarão à disposição dos gestores públicos para que essas ações otimizadas que eu estou propondo possam ser colocadas em prática para salvar o pau-brasil do risco de extinção”, destaca Patrícia.

A pesquisadora reforça a importância da bolsa dada pelo FUNBIO não apenas no financiamento dos campos realizados, mas também na chancela que a organização representa. “Quando um estudante de doutorado recebe o financiamento de um fundo que eu admiro tanto e que tem tanto respaldo quanto o FUNBIO, é uma grande honra. Você se sente estimulado e valorizado. E o financiamento foi essencial para fazer as atividades de campo. Seria muito difícil trazer as novidades científicas que a gente vai trazer e publicar sem esse apoio. O FUNBIO é um estímulo para que a gente continue sonhando com projetos que tragam impacto positivo para a flora brasileira”, completa.

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