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‘Precisamos proteger a floresta e os rios para seguir respirando ar puro’, alerta uma das mais respeitadas lideranças Kayapó
Criado em 2005 pelo ONU, o Dia Mundial dos Rios é comemorado no último domingo de setembro e chama a atenção para a necessidade de preservação das fontes de água doce (menos de 3% da água do planeta). Em todo o mundo, os rios enfrentam ameaças provocadas pelo desmatamento, pelas mudanças climáticas e pela contaminação. Com o Rio Xingu, que corta todo o Território Kayapó, não é diferente. Mais que fonte de hidratação, alimento e vida, ele pode ser considerado parte da identidade desse povo, que se autodenomina Mebêngôkre ou “aqueles que vieram do fundo da água”.
A relação com o rio fica clara na mensagem de Kadjyre Kayapó, liderança de seu povo, que falou especialmente ao Projeto Tradição e Futuro na Amazônia (TFA), patrocinado pela Petrobras.
“Eu estava aqui vendo o rio, os peixes e pensando: ‘Legal estar nele hoje. Vou falar mais uma vez sobre as águas e a floresta’. Eu navegava aqui quando ainda não havia motores de popa, assim como os nossos antepassados. Quero continuar percorrendo esse rio a remo, trabalhando nele. Precisamos que os rios e as florestas sejam preservados em nome das futuras gerações. Não podemos permitir que ele seja destruído e os peixes, extintos. A floresta deve permanecer de pé para que possamos seguir respirando ar puro. Se o homem branco destruí-los, onde os meus netos e bisnetos vão pescar e caçar? Não haverá maneira”, diz o veterano, que já foi líder da aldeia Kubenkokre, considerada a aldeia mãe dos Kayapó do subgrupo Mekrãgnoti.
Kadjyre forma com Kajbeti um casal com muitos filhos e que, portanto, tem grande conhecimento e poder de decisão na sociedade Kayapó. Ele foi fundamental, entre outros, na criação, em 2008, do Instituto Kabu, uma das instituições que representa sua etnia e parceira do TFA. Para ele, a proteção da Amazônia é uma das missões dos Kayapó e dos brasileiros.
“Ainda bem que alguns de nós ficamos nos limites das terras indígenas para protegê-las. É preciso cuidar delas e da floresta. Eu seguirei sempre aqui com as minhas palavras fortes? Não. Um dia, partirei com os nossos ancestrais. Vocês é que vão seguir fazendo isso para que, um dia, possam acampar aqui pensando nos seus filhos. É assim que penso”, conclui ele.