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10/08/2023

Plataforma de avaliação de risco de extinção da fauna é lançada com apoio do projeto Pró-Espécies

Fotos: Aure Vasconcelos
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A biodiversidade brasileira conta, agora, com uma importante ferramenta de conservação. Os dados das quase 15 mil espécies da fauna brasileira avaliadas quanto a seu risco de extinção estão reunidos no  Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade, conhecido como SALVE, e podem ser acessados a qualquer momento, por qualquer pessoa. A iniciativa tem o objetivo de facilitar a gestão do processo de avaliação do risco de extinção e tornar essas informações mais acessíveis, contribuindo, assim, para a geração de conhecimento e implementação de políticas públicas voltadas à conservação da biodiversidade.

O desenvolvimento da plataforma é fruto de um trabalho conjunto, liderado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com apoio do Projeto Pró-Espécies: Todos contra a Extinção, e com a participação de especialistas da comunidade científica. Até o momento, estão publicadas e disponíveis as fichas de 5.513 espécies e a expectativa é que, até o final deste ano, sejam concluídos os trabalhos para a publicação de nova atualização da lista de espécies ameaçadas da fauna brasileira e disponibilização das fichas das espécies à sociedade.

Para  o  coordenador   da  Coordenação  de  Avaliação  do  Risco  de  Extinção  das Espécies da Fauna (COFAU) e analista ambiental do ICMBio, Rodrigo Jorge, a iniciativa irá contribuir efetivamente com a conservação das espécies ameaçadas. “O Brasil é reconhecido mundialmente por abrigar a maior biodiversidade do planeta, e a partir da atualização e disponibilização desses dados será possível reforçar a implementação de ações que promovam a conservação da nossa fauna”, adiantou.

Rodrigo Jorge citou que atividades importantes da gestão ambiental serão beneficiadas diretamente com as informações do sistema, como as demandas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis Naturais (IBAMA) e   de  outros  órgãos ambientais para disponibilização de dados sobre as espécies ameaçadas. “Agora estará tudo disponível prontamente na plataforma. Isso deverá permitir qualificar ainda mais os processos de licenciamento, por exemplo”, reforçou.

Um ponto importante ressaltado pelo analista é que empreendedores também poderão ter acesso a informações relevantes sobre os locais onde planejam instalar empreendimentos, auxiliando na tomada de decisões e, consequentemente, na preservação do meio ambiente. “Análises realizadas a partir dos registros de ocorrência de espécies disponibilizados no SALVE permitirão verificar áreas de concentração de espécies ameaçadas. Assim, empreendedores poderão avaliar, por exemplo, se numa determinada região, onde pretendem implantar um empreendimento há maior risco à biodiversidade e, a partir dessa informação, ter um maior cuidado ou mesmo optar por um local alternativo, com menor sensibilidade. Esse tipo de análise vem sendo realizada pelo ICMBio por meio dos Planos   de   Redução   de   Impacto   à   Biodiversidade (PRIM)”,  complementou Rodrigo Jorge.

A geração de conhecimento a partir dos dados disponibilizados no sistema também foi destacada como uma das grandes ações proporcionadas pela iniciativa. “A disponibilização pública permite que seja potencializada a geração de conhecimento sobre as espécies ameaçadas de extinção, pois os dados serão analisados de diferentes maneiras pela comunidade científica, o que vai gerar novas informações. Por exemplo, com a disponibilização de registros revisados de ocorrência das espécies (coordenadas geográficas de onde foram registradas), os pesquisadores podem elaborar modelos de distribuição potencial dessas espécies e estimar sua ocorrência em locais onde ainda não foram registradas”, explicou.

Risco de extinção

O desenvolvimento do SALVE teve início em 2016 e a ferramenta é operada por servidores do ICMBio. O processo de avaliação do risco de extinção das espécies da fauna brasileira, conduzido pelos 13 Centros Nacionais de Pesquisa e Conservação (CNPC) do Instituto, é executado em etapas e conta com a participação ativa da comunidade científica. O trabalho vai desde a compilação e organização de informações e registros de ocorrência em fichas individuais para cada espécie, passando por consultas direcionadas à sociedade e aos especialistas, até a revisão das informações. A avaliação segue o método de categorias e critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e os resultados são publicados somente após a validação das informações.

Antes da plataforma, todas essas etapas eram feitas por meio do envio de documentos e planilhas, mas agora o processo é executado diretamente no SALVE. Mais de 1.500 parceiros participam das avaliações, coordenadas pelo ICMBio.

“O sistema é complexo e amplo se levarmos em consideração o volume enorme de espécies avaliadas e a quantidade de dados e atividades que controla. A avaliação do risco de extinção das espécies é um trabalho de longo prazo, mas que vale o esforço, pois gera um produto importantíssimo que é a lista de espécies ameaçadas e isso influencia uma série de políticas públicas na área ambiental. Em geral, o planejamento de ações voltadas à conservação utiliza esse produto, que passa a ter os dados que subsidiam a publicação da Lista disponibilizados de maneira pública”, reforçou Rodrigo Jorge.

Rica biodiversidade

 A fauna brasileira é uma das mais ricas do mundo, com mais de 100 mil espécies de animais, entre vertebrados e invertebrados. No caso dos vertebrados, todas as mais de 9.000 espécies conhecidas foram avaliadas. Em relação aos invertebrados, que

respondem pela grande maioria da fauna, há critérios para seleção das espécies que passam pelas avaliações. “Pode ser indicador biológico, ou quando sabemos que, possivelmente, um determinado grupo taxonômico engloba espécies potencialmente ameaçadas, pela existência de algum vetor específico que esteja causando uma ameaça. Também pode ser considerada a existência de interesses socioeconômicos ou, ainda, se as espécies do grupo prestam algum serviço ecossistêmico importante, como é o caso das abelhas, que têm um papel importante na polinização e importância sócio econômica por serem criadas para produção de mel e outros produtos”, explicou.

Além de subsidiar a elaboração de políticas públicas de preservação, o SALVE também consegue passar um panorama geral sobre a situação de cada bioma. “A Mata Atlântica, por exemplo, é o bioma que concentra maior quantidade de espécies ameaçadas, porque é aquele que teve maior perda de vegetação nativa original. Estimativas apontam que restou apenas 10% do original e, ainda hoje, apesar do grande esforço de preservação, segue no topo do ranking. Essa é a região com maior densidade populacional humana, então a urbanização e o turismo precisam ser adequadamente ordenados para que se evite impactos à biodiversidade”, comentou Rodrigo Jorge.

Para ele, são necessárias medidas que busquem reverter a possibilidade de perda da  biodiversidade.  “Precisamos avançar na realização de análises para estimar  a tendência da biodiversidade no Brasil. Na última lista publicada, houve um aumento do número de espécies ameaçadas, mas o universo de espécies avaliadas também aumentou. O correto é analisarmos se para as espécies que mudaram de categoria, isso ocorreu de forma genuína. Entretanto, fica claro a partir das avaliações que a perda e degradação de habitat da fauna são algumas das principais ameaças. Elas têm relação direta com o desmatamento e os índices têm aumentado nos últimos anos. Fica evidente a necessidade urgente de reverter essa tendência, por isso a postura da atual gestão de priorizar o combate ao desmatamento traz boas perspectivas para a conservação da biodiversidade”, adiantou.

Preservação

Para garantir a preservação das espécies ameaçadas de extinção, é preciso uma mudança no comportamento de toda a sociedade. De acordo com o analista, é possível perceber que os avanços já estão ocorrendo. “As pessoas têm ajustado seus padrões de consumo e essa consciência causa um efeito direto nas empresas, por exemplo, que precisam estar mais atentas aos impactos que suas atividades possam causar ao meio ambiente e realizar esforços para reduzir, reverter e compensar atividades que causem impacto à nossa biodiversidade”, destacou.

Por outro lado, o Estado também tem investido em políticas com foco na conservação da fauna. É o caso do Pró-Espécies: Todos pela Extinção, lançado em maio de 2018, que trabalha em conjunto com 13 estados do Brasil (MA, BA, PA, AM, TO, GO, SC, PR, RS, MG, SP, RJ e ES) para desenvolver estratégias de conservação para pelo menos 290 espécies categorizadas como Criticamente em Perigo (CR) em 24 territórios, totalizando 62 milhões de hectares.

O projeto procura alavancar iniciativas para reduzir as ameaças e melhorar o estado de conservação de espécies que não contam com nenhum instrumento de conservação e é financiado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, da sigla  em  inglês  para Global  Environment  Facility  Trust  Fund),  coordenado  pelo Ministério do Meio Ambiente, implementado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), sendo o WWF-Brasil a agência executora.

“Temos uma expectativa positiva com o Pró-Espécies, pois diversos Planos de Ação Territoriais para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção, sob a liderança dos estados, foram elaborados e se as atividades previstas forem de fato implementadas, esperamos que seja possível reverter riscos às espécies. Com priorização na implementação de ações de conservação das espécies teremos oportunidade de colocar em prática vários mecanismos para preservar nossa biodiversidade”, concluiu Rodrigo Jorge.

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