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Os ninhos de cupins como aliados no enfrentamento das mudanças do clima
Em tempos de emergência climática, em que a humanidade busca caminhos para mitigar os impactos do aumento da temperatura global já em curso, é da natureza que vem as melhores soluções. E às vezes as respostas vêm dos menores seres. Os cupins são insetos que vivem em complexas sociedades no interior do solo e, de forma silenciosa, cumprem um importante papel para a manutenção dos ambientes naturais. Os serviços prestados por esses pequenos invertebrados, porém, podem ir muito além do solo. É o que pretende descobrir o biólogo Vandemberg Andrade em seu projeto de pesquisa de mestrado pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
O pesquisador é um dos selecionados de 2024 pelo Programa Bolsas FUNBIO – Conservando o Futuro. Em seu estudo, Vandemberg espera entender qual o papel dos ninhos construídos pelos cupins para estocagem de carbono e para o funcionamento de uma área de manguezal no estuário do rio Mamanguape, no nordeste da Paraíba. “Apesar do pequeno tamanho dos cupins, seu impacto nos ecossistemas é muito grande, atuando como verdadeiros engenheiros de ecossistemas”, destaca o pesquisador.
“Essas estruturas que eles constroem são tão bem elaboradas que diversos organismos se aproveitam dela, não apenas como abrigo, mas como um ambiente altamente controlado, com temperatura e umidade estáveis. Além disso, devido ao seu processo de construção, que envolve a mistura do material fecal desses insetos, matéria vegetal e partículas de solo misturados com a saliva dos cupins, esses ninhos acumulam grandes quantidades de matéria orgânica”, explica o biólogo da UEPB.
A partir dessa observação inicial, o pesquisador começou a se questionar qual seria o papel dessas estruturas na estocagem de carbono na sua forma orgânica, presente nos materiais biológicos usados como “argamassa” para construção dos ninhos.
Uma das perguntas que o pesquisador espera responder é justamente qual a capacidade desses ninhos de armazenar carbono. E se essa estocagem é afetada, por exemplo, pela variação de salinidade ao longo do estuário.
“Os ecossistemas de manguezal desempenham um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas, com uma enorme capacidade de estocar carbono no solo. Entretanto, as pesquisas sobre esse processo ainda negligenciam a influência dos seres que vivem acima do solo, como meus queridos cupins”, aponta Vandemberg, que estuda os insetos desde a graduação.
Entender qual o impacto dos cupins nesse funcionamento e na dinâmica do carbono entre o solo e a atmosfera pode jogar luz sobre a importância desses insetos para mitigação das mudanças climáticas e sobre a necessidade de protegê-los.
“Conservar esses elementos da paisagem não apenas preserva a biodiversidade funcional, mas também fortalece diretamente a luta contra a crise climática. Sem biodiversidade, perdemos funções ecológicas e comprometemos a produtividade dos ecossistemas”, reforça o biólogo.
E a pesquisa ganhou um reforço importante com a seleção no Bolsas FUNBIO, destaca Vandemberg. De acordo com ele, a bolsa ajudará a financiar as coletas em campo e as análises laboratoriais que serão feitas das propriedades físico-químicas dos ninhos e do solo no entorno.
“Fazer ciência no Brasil não é fácil, é um desafio, e esse financiamento fortalece a produção científica de qualidade, permitindo uma compreensão mais aprofundada da nossa biodiversidade e do papel que ela desempenha nos ecossistemas. E isso nos motiva a continuar desenvolvendo ciência e contribuindo para o avanço da pesquisa aqui no nordeste brasileiro. Foi emocionante ver meu nome lá”, comemora o pesquisador.