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Estudos fazem levantamento de espécies da flora nativa e destacam potencial em unidades de conservação para restauração ecológica do Pampa
Dois estudos científicos realizados em unidades de conservação (UC) no Pampa nos últimos meses destacam a diversidade da flora nativa local e o potencial elevado para implementar a restauração ecológica nos territórios.
O trabalho mais recente, concluído em outubro, foi conduzido por uma equipe de pesquisadores do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas (Neprade) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Reserva Biológica (Rebio) Estadual do Ibirapuitã, no Alegrete (RS). A UFSM é uma das implementadoras do projeto RestauraPampa.
A equipe multidisciplinar do Neprade registrou 113 espécies vegetais em ambientes rochosos. Para isso, coletou amostras em 33 pontos de 11 áreas representativas. “Fiquei impressionado com a diversidade e abundância de plantas por metro quadrado. Houveram pontos com mais de 20 espécies diferentes e dez pontos registraram mais de 50 indivíduos por metro quadrado. Verificamos uma riqueza de espécies e dados muito valiosos para estes ambientes ecologicamente diferenciados no bioma”, explica o engenheiro florestal Jhonitan Matiello, pesquisador de plantas ornamentais nativas do Pampa e restauração ecológica, que integra o RestauraPampa.
“Identificamos um total de 34 famílias botânicas. Não só uma espécie de cactácea, mas, pelo menos, cinco. Registramos bromeliáceas raras, como as do gênero Dyckia, e a ocorrência de outras espécies que ainda não tinham sido identificadas na região e nos ambientes rochosos”, complementa.
O protocolo para o reconhecimento de espécies e o diagnóstico dos afloramentos rochosos realizado pelos pesquisadores é um dos legados do projeto. O protocolo reuniu critérios para a definição das áreas representativas, contando com a análise de imagens satelitais, a identificação do tipo de formato do ambiente rochoso (se alongado ou circular), a exposição solar, o tamanho das áreas (se pequenas, médias ou grandes) e entrevistas com pessoas que conhecem a Rebio. A intenção é que seja publicado e esteja disponível para outras iniciativas que atuam na restauração ecológica do Pampa.
“Só valorizamos, conservamos e usamos de maneira sustentável o que conhecemos. E ainda conhecemos pouco do bioma, menos ainda dos ambientes rochosos. Estes ambientes têm muita diversidade de flora e fauna que precisam ser conhecidas e respeitadas. Precisamos reconhecer a diversidade e importância das diferentes formas de vida do Pampa, que vai muito além dos capins”, destaca o pesquisador.
O levantamento científico contribuirá com uma das metas do RestauraPampa, a recuperação de 100 hectares de áreas degradadas na Rebio e entorno e no Parque Estadual do Espinilho.
Já o projeto RestaurAPA concluiu, em março, um estudo que identificou 329 espécies vegetais nos campos nativos da Área de Proteção Ambiental (APA) do Ibirapuitã, localizada na fronteira gaúcha com o Uruguai. As espécies são divididas em 50 famílias botânicas, com uma riqueza de espécies variando entre oito e 55 por metro quadrado.
O levantamento mostra a riqueza vegetal dos campos nativos, mesmo em áreas atingidas pela espécie invasora capim-annoni (Eragrostis plana Nees). O capim-annoni esteve presente na amostragem das 20 propriedades rurais nas UC que participaram da pesquisa. A maior concentração da invasora apareceu em Santana do Livramento (RS), onde ocupou 21% das áreas avaliadas ante 67% de vegetação nativa. A maior concentração de espécies nativas ocorreu em Quaraí (RS), com 81% de cobertura.
Houve registros de espécies ameaçadas, endêmicas e raras nas propriedades. O dado indica que é possível aliar conservação e produção pecuária nos campos nativos, umas das bandeiras do RestaurAPA.
“Do total de 3.651 plantas conhecidas no Pampa, encontrar 317 espécies nativas e 12 espécies exóticas em campos invadidos por capim-annoni é um bom resultado. Demonstra que a flora nativa está presente nos campos e que o potencial de restauração ecológica é elevado”, destaca Mariana de Souza Vieira, da UniLaSalle e uma das coordenadoras do projeto.
O estudo serve de base para o planejamento de ações de restauração e a definição de métodos de manejo nas 20 propriedades rurais. Os dados são importantes para definir tanto os protocolos a serem aplicados, quanto para medir os resultados do projeto.
Até o final de outubro, o RestaurAPA implementou ações de manejo para restauração em 1,7 mil hectares no bioma. Também foi realizada a semeadura de espécies campestres nativas de forma experimental em duas propriedades rurais beneficiadas pelo projeto.