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Engajamento comunitário contribui para recuperação de nascentes em assentamento sergipano
Um projeto implementado no assentamento Modelo da reforma agrária, em Canindé de São Francisco (SE), entre 2020 e o primeiro semestre de 2023, destacou-se pelo trabalho de engajamento comunitário para promover ações de restauração da vegetação. O Bioma Caatinga e rio São Francisco na resiliência do semiárido brasileiro concentrou esforços para recuperar nascentes e áreas degradadas na reserva legal de 151,7 hectares do assentamento e implantar um viveiro comunitário capaz de gerar autossuficiência na produção de mudas nativas. O assentamento Modelo tem 791 hectares.
“O projeto atuou em uma zona de transição no entorno do Monumento Natural (Mona) do São Francisco para o Mona Grota do Angico. O trabalho de recuperação de áreas degradadas contribuirá para o trânsito de espécies entre as unidades de conservação (UC) e a sobrevivência dos animais”, destaca o coordenador do projeto pelo Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC), João Alexandre de Freitas Neto.
O biólogo lembra que as cinco oficinas de sensibilização realizadas pelo projeto entre 2020 e 2021 foram cruciais para envolver a comunidade na recuperação de nascentes que estavam comprometidas pelo assoreamento. Por meio das oficinas, as pessoas foram capacitadas em técnicas de restauração e sensibilizadas para a valorização da biodiversidade da Caatinga.
Cerca de 30 famílias assentadas se envolveram ativamente no projeto e se tornaram parceiras na recuperação de olhos d’água na área de reserva legal. Três nascentes foram desobstruídas e agora fornecem água para consumo humano e animal. Com a recuperação das nascentes, também se observou que o solo ao redor ficou mais úmido, proporcionando melhores condições para a vegetação no semiárido.
As nascentes foram cercadas para evitar a entrada de animais. Em seguida, foram retirados materiais orgânicos e sedimentos do assoreamento. O trabalho foi realizado com o uso de enxadas e até mesmo com as mãos. Uma estratégia adotada foi a construção de uma estrutura de cimento, terra e areia – com sistema de escoamento de água por canos – para proteger a nascente e evitar futuras obstruções.
Nos arredores das nascentes, foram realizados plantios de mudas nativas. Nas oficinas, as famílias de pessoas assentadas foram estimuladas a adotarem práticas agroecológicas para reduzir a erosão do solo. “O engajamento comunitário foi fundamental para o sucesso da restauração. A água voltou a jorrar e beneficiar a vida no assentamento”, conta Freitas Neto.
Além da restauração das nascentes, o projeto apoiou a criação de um viveiro de mudas nativas do semiárido brasileiro. São 50 metros quadrados, com papel fundamental no assentamento, já que permite à comunidade a produção das próprias mudas de espécies usadas no plantio na reserva legal – e as que foram usadas nos arredores das nascentes.
Moradora do assentamento Modelo, Letícia Bispo Santos é uma das cinco viveiristas que zelam pelo desenvolvimento das mudas. Ela, que participou das oficinas do projeto, aprende sobre reflorestamento do semiárido e cuida para o crescimento saudável das cerca de 400 mudas de plantas nativas no viveiro. Entre as espécies, estão o pau-ferro (jucá), o angico, o pereiro, a quixabeira e o umbuzeiro.
“A gente aprendeu a recuperar nascentes entre outros saberes. A gente tinha as nascentes, mas estavam assoreadas. Ninguém sabia como lidar. As oficinas nos ajudaram a recuperar as nascentes e trabalhar coletivamente. A gente pode agora identificar uma nova nascente e recuperar. É um conhecimento que fica na comunidade”, afirma Letícia.
O projeto deixa um importante legado para a comunidade no assentamento Modelo. As oficinas reforçaram a conscientização sobre a importância da conservação da Caatinga e da convivência sustentável com o semiárido. Mais do que restaurar nascentes e criar um viveiro, o projeto mostra que o engajamento comunitário é uma poderosa ferramenta para transformar realidades e contribuir para a resiliência ambiental da Caatinga.
“A experiência de construir um viveiro para realizar ações de recuperação de áreas degradadas fica com a comunidade. O viveiro, por exemplo, pode gerar renda pela comercialização de mudas nativas. É algo que pode ser reproduzido no futuro em outras comunidades e beneficiar toda a Caatinga”, diz Freitas Neto.