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Encontro de bolsistas vai pela primeira vez à Amazônia
Desde 2018, o Programa Bolsas FUNBIO – Conservando o Futuro ajuda cientistas em início de carreira a executarem suas pesquisas. A busca pelo conhecimento e o que esses jovens profissionais esperam dessa jornada e das informações que vão coletar, foi um dos temas centrais nas conversas durante o 3° encontro de bolsistas da iniciativa, realizado em Belém no dia 12 de agosto. É a primeira vez que o evento ocorre na Amazônia, bioma que já foi palco para mais de 30 pesquisas de mestrandos e doutorandos apoiados pelo programa, que desde 2023 conta com o apoio do Programa Fonseca Leadership (Programa Fonseca de Liderança, em tradução livre), criado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, sigla em inglês).
Quatro bolsistas participaram do encontro, que contou ainda com a presença de Rosa Lemos de Sá, Secretária-geral do FUNBIO, e de Daniel Nardin, jornalista e fundador do Amazônia Vox – banco de fontes de conhecimento e de profissionais de comunicação de toda a Amazônia Legal – convidado para falar sobre divulgação científica e o papel da comunicação na ciência.
Com pesquisas que vão de peixes-boi a plantas aquáticas e até a dispersão de microplásticos em rios amazônicos, os bolsistas apresentaram os temas que os instigam nessa jornada por conhecimento e tiveram uma oportunidade de trocar experiências com seus colegas de profissão.
“Eu espero que o programa deixe como legado uma geração de cientistas com formação forte e robusta e que isso continue se multiplicando em novas gerações de cientistas brasileiros”, resume Rosa Lemos e Sá.
Uma das participantes foi Flávia Tavares, da Universidade Federal do Pará (UFPA) que recebeu o apoio do Bolsas FUNBIO em 2020 para realizar seu mestrado sobre a genética dos peixes-boi brasileiros. Atualmente em seu doutorado, a bióloga reforçou a importância do encontro entre bolsistas da região amazônica.
“A Amazônia ainda apresenta índices baixos de pesquisas científicas realizadas, e ainda mais, estudos realizados por cientistas amazônidas. A oportunidade de trocar experiências com diferentes bolsistas em diversas áreas da biodiversidade amazônica foi incrível. Todos os bolsistas mostraram perspectivas pioneiras para fazer ciência na Amazônia brasileira”, destaca a doutoranda da UFPA.
Um destes pioneiros é Gabriel dos Anjos, também doutorando da UFPA, dedicado a entender como os microplásticos se distribuem pelos rios na região do delta amazônico e prever cenários de quais são e serão as regiões mais afetadas por esses contaminantes até 2100. Selecionado pelo Bolsas FUNBIO na edição de 2023, ele conduz o que pode ser o primeiro estudo no mundo com foco em mostrar como o microplástico varia em um ambiente aquático e projetar cenário futuro dessa variação diante das mudanças climáticas.
“A partir dos resultados obtidos nesses estudos, a gente consegue propor junto aos órgãos, principalmente aqui de Belém, medidas para poder conservar pro futuro e lidar com toda essa poluição causada pelo plástico, uma vez que o estudo vai mostrar até 2100 como vão estar distribuídos esses poluentes”, explica o pesquisador.
Durante o encontro em Belém, os cientistas também foram estimulados a pensar na comunicação das suas pesquisas e como fazer o conhecimento sair da “bolha da academia”.
A bióloga Ana Luísa Fares, bolsista contemplada em 2022 pelo Programa Bolsas FUNBIO, aceitou o desafio e traduziu sua pesquisa de doutorado na UFPA – sobre como plantas aquáticas respondem às condições de estresse hídrico causado pelas mudanças climáticas – em um artigo, publicado pelo Amazônia Vox e republicado no site do FUNBIO.
Em seu texto, a pesquisadora explica como a diversidade dessas plantas aquáticas amazônicas está ameaçada pelas alterações no clima, o que pode resultar num efeito dominó em todo ecossistema, e traduz seus dados em um alerta concreto à sociedade.
“Um declínio na biodiversidade dessas plantas pode afetar outras espécies que dependem delas em algum estágio de vida, causando uma cascata de impactos ecológicos. Isso inclui o declínio das populações de peixes e pequenos invertebrados e o aumento descontrolado de algas, o que pode levar a um desequilíbrio nos ecossistemas”, destaca Ana Luísa.
Durante o encontro em Belém, Ana Luísa teve a chance de conversar com outra pesquisadora voltada para as plantas aquáticas e seu papel no ambiente. Rayssa Carmo, selecionada na edição de 2022 do programa Bolsas FUNBIO, estuda como duas espécies de plantas aquáticas nativas da Amazônia são afetadas pelo alumínio, oriundo de fontes naturais ou de poluição.
Em sua própria jornada pelo conhecimento, Rayssa espera que esses dados orientem estratégias para mitigar os impactos do alumínio e proteger a biodiversidade dos ambientes aquáticos amazônicos e contribuam para a conservação da região.
E a pesquisadora ressalta a importância do Programa Bolsas FUNBIO – Conservando o Futuro nessa jornada. “Quando a gente recebe a notícia de que a gente vai ser financiado, é uma satisfação muito grande porque a gente vai ter suporte tanto tecnológico quanto em campo”, conta Rayssa, que completa: “O FUNBIO veio para falar, ‘olha, estamos aqui, vamos colaborar juntos e esse trabalho vai sair e vai ser um trabalho muito bom’. Que foi o que a gente teve”.
Em sua 7ª edição, o Bolsas FUNBIO já apoiou 186 doutorandos e mestrandos, e conta hoje com a parceria do Programa Gustavo Fonseca de Jovens Lideranças em Conservação, criado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). O resultado da seleção do novo ciclo do programa será anunciado no final deste ano.