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Depois do incêndio, a recuperação de áreas degradadas no Pantanal avança na ESEC de Taiamã
O projeto Restaura Pantanal realizou o plantio de 6 mil mudas de espécies nativas na Estação Ecológica (ESEC) de Taiamã e em áreas de nascentes do Pantanal entre os meses de novembro de 2022 e fevereiro de 2023. O plantio buscou recuperar a vegetação nativa na unidade de conservação (UC), que teve 35% da área atingida pelos incêndios de 2020, e no entorno, em que sofreu perdas de 100% pelo fogo.
O Pantanal está dentro da bacia hidrográfica do rio Paraguai. Conecta o Cerrado, no Planalto Central brasileiro, e a Amazônia. “É único porque nele encontramos espécies de diversos outros biomas, além de ser uma das maiores áreas úmidas do mundo. Um patrimônio da Humanidade e que foi severamente atingido pelos incêndios, em 2020”, ressalta a coordenadora do projeto Restaura Pantanal, responsável pelas ações de recuperação, Solange Kimie Ikeda Castrillon, que também é professora e doutora na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e fundadora do Instituto Gaia.
O plantio aconteceu em mutirões. Somente entre novembro e dezembro, foram 10 mutirões, com uma média de 15 pessoas. Participaram alunos, pesquisadores, técnicos do projeto, comunidades tradicionais e de pescadores artesanais, brigadistas, corpo de bombeiros, Marinha do Brasil, Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Mato Grosso, ICMBio e pequenos produtores rurais.
A restauração considerou 40 das espécies que existiam anteriormente no local, como ingá, sarã, caxuá-branco, caxuá-vermelho e jenipapeiro. As mudas foram produzidas no viveiro florestal Educador, localizado no campus universitário da UNEMAT, em Cáceres (MT). Para a produção, foram usadas sementes recolhidas na própria ESEC. Do viveiro, foram levadas em barcos e voadeiras até Taiamã, onde foi construído um viveiro específico para aclimatação.
O plantio começou em novembro. Até fevereiro, haviam recebido técnicas de recuperação 24 hectares na ESEC e no entorno, como na ilha de Sararé, nas margens do rio Paraguai e em duas áreas de nascentes. A recuperação de nascentes é importante no Pantanal porque a água que anualmente forma a maior planície alagável contínua do planeta provém das cabeceiras no Planalto Central.
Na UC, 3 hectares de florestas em áreas abertas foram enriquecidas e adensadas e, 4 hectares tiveram acompanhamento da regeneração natural. Além disso, foram recuperados 3 hectares do Abobral queimado em 2020. Nessa zona, ocorre majoritariamente a abobreira (Erythrina fusca), que produz uma flor em tom alaranjado. Como estão em áreas baixas, foram formados murundus com os caules e raízes das árvores mortas, o que permitiu criar condições para que outras espécies se estabelecessem em pequenos morrotes.
“Foi um trabalho difícil. Estávamos em zona de onça-pintada. Ficamos dentro d’água muitas vezes. Fizemos murundus com enxada na mão. São pequenas ilhas cheias de espécies. Colocamos Erythrina fusca com estaquia de 1,2 m de altura. Os murundus são importantes porque não vão embora com a inundação do Pantanal”, conta o biólogo José Aparecido Macedo, 73, um especialista em restauração do bioma. José Aparecido trabalhou na recuperação de 84 nascentes do Pantanal desde em 1983, ano em que chegou ao Mato Grosso vindo do estado de São Paulo.
A equipe técnica do projeto realiza agora o monitoramento periódico para avaliar o desenvolvimento das mudas e aquelas que sobreviverão. Há mudas plantadas que ficarão submersas durante o período de inundação.
“A degradação foi tamanha que mesmo nós, pesquisadores, ainda não temos as respostas de como restaurar, de como preservar. Qual é a melhor época para plantar uma semente nativa no Pantanal? Em outros biomas, o natural é plantar no início das chuvas, mas aqui temos que experimentar porque, quando inicia o ciclo, o Pantanal enche. Será que a plantinha vai sobreviver à inundação?”, questiona Solange.
A ESEC de Taiamã fica distante 150 km ao sul de Cáceres (MT). Para além do incêndio de grandes proporções, a região vem sofrendo nos últimos anos com os impactos da mudança do clima, pelo uso inadequado do solo e pela contaminação de águas por pesticidas despejados nas cabeceiras do Pantanal.
* Legenda foto: Recuperação de Abobral. Foto: Restaura Pantanal