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Criação de novas RPPNs amplia corredor ecológico na Chapada dos Veadeiros e mostra protagonismo feminino
A região da Chapada dos Veadeiros ganha, neste mês de setembro, seis novas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), instrumento de extrema importância para a conservação da biodiversidade no Cerrado. São 70 hectares a mais de áreas protegidas no bioma, o equivalente a setenta campos de futebol. As novas RPPNs ficam no entorno do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, nos municípios de São João D’Aliança, Alto Paraíso de Goiás e Cavalcante, no estado de Goiás.
“No Cerrado, mais de 60% da vegetação nativa estão em áreas privadas. Nosso foco é proteger esses ecossistemas e para isso adotamos, entre outras estratégias, o apoio à criação de RPPNs. Apoiamos também a elaboração dos Planos de Manejo, que organiza a gestão dessas áreas e fortalece essas inciativas de conservação”, explica a gerente do Programa COPAÍBAS, Paula Ceotto.
Das seis novas reservas, a maioria tem à frente mulheres, acima dos 60 anos, que se dedicam e investem na proteção desse importante bioma, fundamental para a manutenção do equilíbrio hidrológico no país. Entre elas, a reserva Terra das Vochysias, que fica nas nascentes do Rio dos Couros, a Beija Flor e Renascer II, III e IV, que estão no entorno do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, todas apoiadas pelo Programa COPAÍBAS, com consultoria da Fundação Pró-Natureza (Funatura), via projeto Aroeira.
A psicóloga, Uta Sibile Bodewig, é moradora do município de Alto Paraíso de Goiás desde 1989 e proprietária de três destas novas unidades de conservação, a Renascer II, III e IV, que, juntas, representam 11,26 hectares. Segundo ela, há 35 anos, quando comprou as terras, o terreno estava devastado, provocado por queimadas para a criação de gado. Hoje, ela percebe a regeneração da natureza no local e acredita que o fortalecimento das mulheres e jovens garante mudanças significativas na proteção do bioma. “A criação das RPPNs na minha terra representa uma contribuição para que gerações futuras apreciem a beleza deste cenário”, conta.
Outras seis RPPNs, Campos Úmidos Vochysia, Águas da Manhana, Renascer, Avá-Canoeiro, Rio Almas e Flor das Águas do Cerrado, que somam 1.144,9 hectares —, também nos municípios de Alto Paraíso de Goiás e Cavalcante, passam pela fase de finalização da elaboração dos Planos de Manejo, que permite um melhor gerenciamento da reserva, respeitando as características ambientais e as normas necessárias para sua preservação. Duas delas, Rio Almas e Flor das Águas do Cerrado, estão situadas próximas ao Território Kalunga, dentro da Área de Proteção Ambiental de Pouso Alto. Todas essas iniciativas são apoiadas pelo Programa COPAÍBAS.
Dolores Wandscheer, proprietária da RPPN Águas da Manhana (Alto Paraíso de Goiás) chegou ali em 1994, após se aposentar. Ela conta que enfrentou a expansão das empresas de mineração, que almejavam a exploração dos minerais no local. “No início, fomos assediadas pelas empresas de mineração, por conta dos cristais. Hoje, esse corredor ecológico, com a criação das RPPNs, é urgente, porque as terras são próximas à vila, e aumentou o número de moradores na região. Com isso, as pessoas criam cachorros e cavalos, que acabam expulsando os animais silvestres”, explica.
Ainda dentro do projeto Aroeira, mas fora da área da Chapada dos Veadeiros, duas outras reservas particulares também foram criadas, totalizando assim oito novas RPPNs, num total de 1.099 hectares. São elas a Flor Astral, no município de Água Fria de Goiás, em Goiás, com 9,99 hectares, e a RPPN Serra, em Aparecida do Rio Negro, no Tocantins, com 1.019 hectares.
Para a consultora da Funatura, Verônica Theulen, a parceria com o Fundo Brasileiro para Biodiversidade (FUNBIO), por meio do Programa COPAÍBAS, proporcionou os recursos necessários para execução do projeto e fortaleceu a implementação de novas reservas privadas. “Criar RPPNs foi um esforço colaborativo. Por meio dos proprietários privados, contribuímos com a proteção da biodiversidade na Chapada dos Veadeiros. Essa grande parceria com o FUNBIO fortaleceu a atuação da Funatura nesses territórios”, resume.