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Conservação da Toninha chega ao fim com gera um legado de dados e imagens inéditos
Foto: GEMARS
Cinco anos após iniciar as pesquisas sobre o golfinho mais ameaçado do Brasil, o projeto Conservação da Toninha concluiu seu ciclo em 2022, consolidado como a maior iniciativa científica coordenada sobre a espécie no Brasil. Foram inúmeros avanços e descobertas sobre a toninha nos últimos anos, desde sua ecologia, genética e dinâmica populacional até sua distribuição no litoral do país e as principais causas de mortalidade, um trabalho realizado em conjunto com pesquisadores do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
Mais conhecido no Brasil como toninha, o raro golfinho de pequeno porte Pontoporia blainvillei é endêmico da costa do Atlântico Sul Ocidental e só pode ser encontrado na Argentina, no Uruguai e no Brasil, onde vive entre o Espírito Santo e o Rio Grande do Sul. A produção e a disseminação de conhecimento técnico e científico sobre a toninha podem contribuir para a criação e a implementação de políticas públicas de apoio à conservação da espécie, com subsídios para o Plano de Ação Nacional voltado para o animal.
Ao coletar informações, os pesquisadores planejaram o compartilhamento de conhecimento de forma a dar apoio a possíveis estratégias que minimizem o impacto decorrente da interação do cetáceo com a pesca artesanal. A morte acidental por emalhe (em que os animais se enroscam em redes e morrem asfixiados) é a principal ameaça à espécie.
O ano de 2021 foi marcado por ações de comunicação para celebrar e divulgar, entre outras, uma descoberta inédita, feita em novembro de 2020, no litoral sul do Rio de Janeiro. Na Baía da Ilha Grande, próximo ao município de Paraty, pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) registraram pela primeira vez um grupo de toninhas, até então apenas uma suposição para a academia.
Há cerca de 20 anos, foram encontrados os primeiros indícios de que o local abrigava uma população da espécie, quando um crânio de Pontoporia blainvillei foi ali descoberto. Posteriormente, rápidas aparições não chegaram a ser registradas em vídeo e especulava-se se não seriam toninhas visitantes de Ubatuba. Para a descoberta inédita contribuíram o apoio de pescadores e o uso de drones e microfones subaquáticos. Graças ao esforço conjunto, no início do ano, foram divulgados vídeos dessa população de toninhas.
Também com o uso de drones, que se revelaram importantes aliados na pesquisa sobre toninhas, o Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul – GEMARS lançou vídeos que revelam comportamento até então jamais visto de mães e bebês toninhas. As imagens, captadas em Ubatuba – região em que as águas límpidas permitem observar os bichos com clareza muito maior que perto da foz de rios –, mostram o trabalho de campo da equipe.
Além do flagrante inédito, o projeto também lançou no último ano o podcast Nas Ondas da Toninha, com informações científicas para pescadores artesanais. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) prepararam oito episódios com assuntos ligados diretamente à atividade pesqueira, ao ambiente costeiro-estuarino onde atuam, e, claro, às toninhas. O programa é visto como uma forma de devolver o conhecimento para a sociedade.
Outra ação importante visando à conservação do golfinho mais ameaçado do Brasil foi a realização do primeiro ToninhaThon. A maratona, conhecida popularmente pelo nome hackathon, em que grupos propõem soluções para os problemas apresentados, estimulou o desenvolvimento de ideias inovadoras que conversem com os principais problemas de ameaça à toninha, seja pela interação com a pesca ou pela perda de habitat.
A realização do projeto Conservação da Toninha é uma medida compensatória estabelecida pelo Termo de Ajustamento de Conduta de responsabilidade da empresa PetroRio, conduzido pelo Ministério Público Federal – MPF/RJ. O FUNBIO é o executor do projeto.
Museu das toninhas
Ver uma tímida e discreta toninha ao vivo não é uma tarefa fácil nem para pesquisadores, que conhecem a espécie como ninguém. Mas para aproximar o golfinho do público, pesquisadores do Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores (Maqua), da Uerj, apoiados pelo projeto Conservação da Toninha, lançaram em novembro 2021 o virtual Museu das Toninhas.
De forma lúdica, a experiência virtual permite ao usuário interagir com as toninhas em uma mistura de registros reais da espécie no mar com imagens modeladas em 3D. Visitantes podem vivenciar a história da evolução da espécie, além de explorar sua anatomia, ecologia e hábitos de reprodução. A iniciativa tem também o objetivo de educar a população sobre as principais ameaças ao menor golfinho do Atlântico Sul, assim como mostrar todo o trabalho que tem sido realizado por diferentes instituições para a sua conservação.
A experiência virtual do museu reproduz tons e elementos das águas da costa da Baía da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, onde houve a recente descoberta de uma nova população de toninhas. É possível ver os animais nadando com filhotes, além de identificar peixes e moluscos que fazem parte da alimentação do animal.
Para aumentar o engajamento do público jovem e difundir informações sobre o pequeno cetáceo, o museu inclui experiências como filtros para mídias sociais, em que é possível posar para uma foto ao lado de uma toninha. Virtualmente, é claro. A idealização do museu partiu do princípio de aproximar a toninha do público, sob a premissa de que o conhecimento é essencial para a conservação da espécie.