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29/08/2024

Brigada Alto Pantanal atua na prevenção e no combate ao fogo no bioma

Thiago Camara/FUNBIO
Thiago Camara/FUNBIO
Thiago Camara/FUNBIO
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O Pantanal em chamas não é nem de perto o cenário de novela que a biodiversidade do bioma encena todos dias na planície úmida mais extensa do mundo. Ver árvores machucadas pelas chamas e animais absorvidos pelo fogo é devastador. Na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Engenheiro Eliezer Batista, 4h30 horas de barco de Corumbá, o fogo que começou em 26 de julho, vindo da Bolívia, poderia ter causado estragos maiores. A presença da Brigada do Alto Pantanal na região evitou o pior. Criada pelo Instituto Homem Pantaneiro (IHP), que recebe apoio do projeto GEF Terrestre, a Brigada se dedica a apagar as chamas.

“Os recursos trouxeram estabilidade para o trabalho dos brigadistas. E é um trabalho que vai muito além do fogo. Eles são agentes de educação ambiental nas comunidades da Serra do Amolar, isso também é um trabalho de prevenção”, explica o Coronel Ângelo Rabelo, a 22 anos à frente do IHP.

É um trabalho de formiga. O IHP identifica áreas de incêndios, aciona os órgãos públicos e, se os focos são ao norte do Rio Paraguai, o combate começa pela Brigada Alto Pantanal. O grupo é formado por seis homens-heróis.

Arilson Borges, Idino Ramos Ferreira, João Batista da Silva, Joilson Coimbra, Manoel Garcia da Silva e Sérgio Ramos Ferreira são nomes-coragem que avançam mata adentro para cercar as chamas. Constroem aceiros, que servem como rota de fuga para os animais e estratégia para conter o fogo. A limpeza, abertura e manutenção desses caminhos realizados entre junho e julho deram certo. E a devastação foi menor do que poderia ter sido. Com olhos e mãos atentos, expressam seu amor pelo Pantanal em dias, noites e até madrugadas afinco em combate. O lema é descansar somente após dominar a voracidade das chamas. Com o fogo controlado, no dia 12 de agosto, eles voltaram para suas casas, em Corumbá.

Manoel da Silva já atuou no Exército brasileiro, depois trabalhou com gado e fez alguns serviços rurais, passou pelo Prevfogo – IBAMA e desde 2021 assumiu a coordenação da Brigada. De passo firme, olhar atento e ágil no falar e no pensar, ele ainda se abala com o cenário fúnebre que o fogo deixa após sua passagem. No monitoramento realizado na manhã de 9 de agosto, Manoel se emocionou ao avistar um corpo de um filhote de veado carbonizado e preso a um galho retorcido.

“É muita tristeza para nós que trabalhamos para isso não acontecer. Um animal é irracional. Ele não consegue entender o que é o perigo. Mas nós que somos homens, entendemos. A gente apela para as pessoas não fazerem isso. O que o fogo traz é só destruição”, disse ele indignado.

A dureza do ofício revela um instinto de proteção. Algo que Sérgio Ferreira executa no trabalho pela prevenção e combate às chamas no Pantanal e em casa, com sua família. Para ele o apoio do GEF Terrestre faz toda diferença.

“Nós tratamos o Pantanal como se fosse nosso filho. Temos feito nosso trabalho de coração. Sentimos orgulho de ver como conseguimos proteger algumas partes da biodiversidade do bioma. Com ajuda do GEF Terrestre temos a tranquilidade de deixar nossas famílias em casa para vir cuidar da nossa outra família que é o Pantanal”, diz ele.

As mãos que enfrentam o fogo, também plantam. A realização do projeto “Mitigação dos efeitos dos incêndios de 2020 e prevenção contra novos incêndios na Serra do Amolar, Pantanal”, do IHP, com recursos do GEF Terrestre, deu aos brigadistas também a função de restaurar o bioma que eles tanto amam.

Cristiane dos Santos, técnica de campo, coordena a restauração na RPPN Acurizal desde dezembro de 2021. Ela conta que a inciativa não envolve somente a conservação da flora e da fauna, mas também a inclusão e conscientização das pessoas e a presença da Brigada Alto Pantanal faz parte do êxito no plantio das 25 mil mudas ao longo dos 15 hectares e nas demais ações de condução da regeneração da floresta em outros 15 hectares.

“Conservação também se faz com pessoas. Eles vêm de outras realidades, receberam outra educação e para eles realizar esse trabalho é gratificante. E em comum temos o amor pelo Pantanal”, explica ela.

Os brigadistas acumulam habilidades, seja com o fogo, com as mudas, mas sobretudo com as pessoas. E por isso são elogiados por ribeirinhos e comunitários que sentem na presença deles uma segurança.  Em quatro  comunidades às margens do Rio Paraguai, a Brigada faz um trabalho de educação ambiental. Cerca de 150 famílias são impactadas, como a de dona Rosinha, que vive no Porto XV de Março, na região do Paraguai Mirim, 2h30 minutos de barco de Corumbá.

“Acho muito importante eles aqui perto. Não temos que esperar ninguém vir de Corumbá. Eles sempre vêm pra ficar olhando, porque esse fogo pega. Se você olhar para o outro lado, queimou tudo na beira do rio. Graças a Deus não pulou pra cá. É uma maldade que as pessoas fazem de botar fogo sem fazer os aceiros. Fazem de qualquer jeito e acabam com os bichinhos, acaba com a natureza, com tudo. Tem que ter consciência”, conta ela.

Como diz Manoel de Barros, poeta que retratou o Pantanal em versos e prosas: “Penso que os homens deste lugar são a continuação destas águas” (Poema Águas). Os brigadistas lutam e atuam para que o Pantanal continue entregando sua biodiversidade única para o Brasil e o mundo.

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