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Associação do Quilombo Kalunga terá construção de armazém financiado pelo COPAÍBAS
O Cerrado é morada de diversos povos e comunidades tradicionais. Por viverem de seus recursos naturais e ajudarem na conservação da natureza, eles desempenham o papel de guardiões do bioma. Entre os povos do Cerrado, os mais conhecidos são os indígenas e os quilombolas, mas na região há muitos outros grupos, como os vazanteiros, as quebradeiras de coco do babaçu, os geraizeiros, e os apanhadores de sempre-vivas.
O Programa COPAÍBAS apoia e viabiliza projetos de algumas destas populações, contribuindo para a manutenção da cultura e a melhoria das condições de vida destes grupamentos. Um deles é a Associação do Quilombo Kalunga (AQK), no norte de Goiás, que está recebendo financiamento do Programa para a construção de um armazém para venda de sua produção. A Associação também pretende usar o futuro espaço para realização de exposições e encontros de divulgação da cultura quilombola.
“Ao sermos contemplados no edital do COPAÍBAS, a comunidade caminha para a realização de um sonho de muitos de nós, inclusive dos que já não estão mais presentes fisicamente, que é a estruturação comercial e da produção dos produtos das famílias Kalunga. A gente vai construir não apenas um lugar para vendas, mas uma casa de memória e cultura do povo Kalunga. Será também um espaço de exposição, de visitação, onde os turistas poderão conhecer melhor nosso povo”, afirma Carlos Pereira, presidente da AQK.
A AQK representa as famílias do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, considerado um dos maiores territórios de áreas remanescentes de quilombo no Brasil, com cerca de 8 mil moradores. O território Kalunga abrange 39 regiões e está contido no perímetro de três municípios: Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás. O armazém, com inauguração prevista para outubro de 2023, será feito com a ajuda da própria comunidade, respeitando os ensinamentos ancestrais dos quilombolas, no centro do município de Cavalcante (GO). Eles vão seguir as técnicas da bioconstrução, com adobe e madeira retirada do território Kalunga. Os Kalunga já têm uma pequena loja no povoado do Engenho, também em Cavalcante, que só em 2022 recebeu 25 mil visitantes.
Representante dos Kalunga, Carlos Pereira explica ainda que a inauguração do espaço vai permitir a seu povo tirar seu sustento da terra de forma mais eficiente e digna (muitos percorrem quilômetros a pé, carregando a colheita em carrinhos de mão), além de possibilitar a divulgação de sua cultura. “Lá serão comercializados alimentos cultivados de forma tradicional pelas famílias Kalunga, em pequenas roças, sem agrotóxicos. A seleção dos produtos foi feita num levantamento junto aos moradores, que se mostraram dispostos a levar sua produção para o mercadinho. Nesta primeira fase, 300 famílias aceitaram participar”, diz.
De acordo com Pereira, o objetivo da comunidade é atrair todas as famílias do território e expandir o projeto, inaugurando outros mercados em cidades no entorno da Chapada dos Veadeiros e em Brasília. Nas prateleiras do armazém serão oferecidos produtos típicos do Cerrado como a castanha do baru e o pequi. A lista inclui, ainda, alimentos produzidos de forma artesanal pelo povo Kalunga como a farinha do jatobá e a farinha Kalunga, rapadura, melado da cana e mel de abelha.
Em 2021, o Quilombo Kalunga foi reconhecido pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), da ONU, como o primeiro Território e Área Conservada por Comunidades Indígenas e Locais (Ticca) do Brasil. O título internacional é concedido a territórios tradicionais e comunitários que preservam a natureza e garantem o bem-estar de seu povo.
Foto: AQK/André Dib