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Ano novo, ciclo novo: conheça as novas iniciativas do Projeto de Apoio à Pesquisa Marinha e Pesqueira
Foto: Diogo Vasconcellos
Desde que o Projeto de Apoio à Pesquisa Marinha e Pesqueira começou a sair do papel em 2015, até aqui foram 15 instituições apoiadas, mais de 200 bolsistas envolvidos e 23 iniciativas espalhadas pelo litoral do Rio de Janeiro e de outros estados. Das sardinhas-verdadeiras aos corais e costões rochosos, da ecologia de espécies ameaçadas aos impactos sociais da exploração petrolífera, o projeto vem deixando um potente rastro de contribuições para as ciências do mar. E inaugura 2022 com novidades: quatro novas linhas de atuação prometem expandir ainda mais suas possibilidades de apoio.
Uma das novas frentes é voltada para o apoio a ações que visam à conservação de tubarões e raias marinhos, especialmente as espécies com dados insuficientes. Outro pretende destinar recursos para colaborar com a maricultura no estado do Rio de Janeiro. Um terceiro tem como foco a reconstrução do acervo de biologia marinha do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ). E um quarto tem como objetivo equipar o navio Ciências do Mar III, que será usado por cursos de graduação e pós-graduação voltados para Ciências do Mar na região Sudeste.
A oportunidade de ampliação do projeto veio do recurso que equivale à correção monetária do montante previsto no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que a Chevron Brasil firmou com o Ministério Público Federal, em 2013. Um longo processo de diálogo e construção entre o FUNBIO e a PetroRio (que desde 2019 é responsável pela execução do TAC) resultou nas quatro novas linhas de atuação. “Fomos direcionando os recursos para onde percebemos que havia lacunas no Projeto Pesquisa Marinha”, explica Ana Helena Bevilacqua, gerente do projeto no FUNBIO.
Cada linha está num estágio de desenvolvimento: enquanto a execução das iniciativas do Museu Nacional e do navio Ciências do Mar III caminha a todo vapor, o processo seletivo de iniciativas voltadas para tubarões e raias está em andamento. Já a frente de maricultura segue em fase de definições.
Reconstrução
É preciso pressa quando se trata da mais antiga instituição científica do Brasil, que figurou como um dos maiores museus de história natural e de antropologia das Américas. Em setembro de 2018, o Museu Nacional foi consumido por um trágico incêndio que destruiu quase por completo seu grandioso acervo em exposição. Desde então, o MN vem recebendo recursos públicos e privados para sua reconstrução. E agora, ganha um novo impulso do Projeto Pesquisa Marinha.
Com o apoio, o museu pretende reerguer seu acervo de animais marinhos ao mesmo tempo em que constrói um novo e amplo laboratório de taxidermia – onde os bichos são tratados e conservados para serem expostos ou guardados em coleções. No fim de 2021, por exemplo, o museu já conseguiu trazer para seu patrimônio um tubarão que morreu no Aquário Marinho do Rio de Janeiro (AquaRio), e também avança na infraestrutura de suporte do esqueleto de uma baleia cachalote.
“Quem souber do falecimento de animais marinhos pode entrar em contato conosco, pois estamos abertos a cuidar do traslado, a recebê-los e conservá-los”, diz o diretor administrativo do Museu Nacional, Wagner Martins. “Esse trâmite precisa ser muito ágil, pois o material se deteriora rápido”.
Enquanto a busca pelos animais não cessa, a equipe do museu paralelamente avança com a construção de um novo espaço para recebê-los e tratá-los. Se antes o laboratório de taxidermia tinha capacidade de atender apenas espécimes de pequeno porte, agora ele também tem o objetivo de abrigar grandes animais que foram perdidos no incêndio, como baleias. “O laboratório vai ser um passo chave para permitir a reabertura do museu ao público. Temos esperança de inaugurar novas exposições até 2023”, antecipa Wagner.
Um navio para a ciência
Os próximos anos também prometem iniciar novos ciclos para pesquisadores de ao menos 8 instituições de ensino e pesquisa no Sudeste brasileiro. Desde 2020, um Laboratório de Ensino Flutuante começa a se tornar realidade para as universidades Federal Fluminense (UFF), Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Federal do Espírito Santo (UFES), Estadual Paulista (UNESP), Federal de São Paulo (UNIFESP), Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Foi naquele ano que o navio Ciências do Mar III aportou em Niterói, no Rio de Janeiro, para servir como uma poderosa ferramenta na formação de recursos humanos e para a produção de conhecimento científico na região. A embarcação faz parte de um projeto maior iniciado há 16 anos pelo governo brasileiro, quando se investiu na construção de quatro navios (Ciências do Mar I, II, III e IV) que, de Norte a Sul, cumpririam o mesmo papel nas diferentes regiões da costa.
No momento, o Ciências do Mar III atravessa um processo de ajustes e capacitações da tripulação para que possa iniciar suas atividades em alto mar. Paralelamente, o navio vai ganhando corpo com a aquisição de equipamentos de última geração, possibilitada pelo Projeto Pesquisa Marinha. A lista vai desde lupas e microscópios a um veículo submarino remoto (ROV) que alcança até 300 metros de profundidade, onde mergulhadores não conseguiriam chegar.
Ao longo dos próximos meses, a ideia é que a embarcação tenha condições de produzir conhecimentos oceanográficos físicos, químicos, geológicos e biológicos. “Nós estaremos muito bem equipados. E o Ciências do Mar vai contemplar não só os pesquisadores e alunos das universidades: quando estiver atracado também poderá ser uma ferramenta de educação para estudantes dos níveis mais básicos”, afirma o pesquisador Marcus Rodrigues da Costa, da UFF. “No estado do Rio de Janeiro esse Laboratório de Ensino Flutuante que estamos construindo coletivamente é uma grande novidade. Uma conquista que teve início 16 anos atrás e começa a se concretizar agora”.