Notícias
“A necessidade faz o sapo pular”, como a crise do clima afeta os anfíbios
Os impactos das mudanças climáticas já afetam a biodiversidade, de modo geral, mas o grupo dos anfíbios, em particular, tem sido uma das principais vítimas das alterações de temperatura e dos regimes de chuvas, com centenas de espécies caminhando para possível extinção já nas próximas décadas. Apaixonado pelos anfíbios desde a graduação, o biólogo João Paulo de Oliveira Xavier, doutorando da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), decidiu fazer deles seu tema de estudo. “Minha principal motivação para estudá-los é eles serem o grupo de vertebrados mais ameaçados e pelo fato de que o nosso país tem a maior diversidade de anfíbios do mundo. Acho que temos uma responsabilidade pela conservação desse um grupo tão biodiverso e tão ameaçado dentro do nosso território”, conta o biólogo.
O pesquisador foi um dos selecionados de 2024 pelo Programa Bolsas FUNBIO – Conservando o Futuro, por meio do Fonseca Leadership Program (Programa Fonseca de Liderança, em tradução livre), criado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, sigla em inglês). Em seu projeto de pesquisa, João irá se aprofundar sobre os impactos causados pelas mudanças climáticas aos anfíbios e como as estratégias atuais de conservação dão conta – ou não – da conservação desses animais no longo prazo na região subtropical brasileira, que engloba os estados do Sul, parte de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
De acordo com o pesquisador, a estimativa é de que existam entre 250 e 300 espécies de anfíbios nessa região, o que representa um quinto de toda diversidade do país. “Portanto, a região subtropical brasileira, que cobre aproximadamente 7% do território nacional, abriga pouco mais de 20% da diversidade de anfíbios do Brasil”, destaca João. Dessas, pelo menos 50 estão sob algum risco de extinção.
Em todo o Brasil existem mais de mil espécies de anfíbios e ainda se sabe pouco sobre esses animais, de modo geral. Mas duas coisas são certas: as mudanças climáticas são um elemento-chave para o futuro dessas espécies e a conservação de ambientes naturais é fundamental para dar uma chance de sobrevivência a esses e outros animais.
Com sua pesquisa, João espera entender se as áreas protegidas e as estratégias que existem atualmente para conservação dos anfíbios da região subtropical brasileira são suficientes para manter a biodiversidade ou não. “A gente imagina que não, que apenas uma pequena parcela esteja segura dentro das áreas protegidas atuais, e queremos propor novas áreas consideradas hotspots para esse grupo”, explica o biólogo. Além das áreas protegidas, a conservação de muitos dos anfíbios da região está no centro dos Planos de Ação Nacional (PAN) da Herpetofauna do Sul e do Sudeste.
Os hotspots seriam áreas prioritárias para conservação dos anfíbios, que abrigam uma alta diversidade de espécies. Um conhecimento que o pesquisador espera que possa ser usado por tomadores de decisão e formuladores de políticas públicas para criação de novas áreas protegidas, por exemplo. Mas não apenas eles. “Que possa também ser usado por nós mesmos, enquanto pesquisadores e sociedade civil, porque todos nós precisamos levantar a bandeira da conservação e levar essa mensagem para mais pessoas”, reforça.
Ampliar o alcance e formar uma rede pela ciência é parte do que o doutorando espera obter ao longo do seu trabalho, agora com apoio fundamental do programa Bolsas FUNBIO – Conservando o Futuro, que irá financiar visitas a coleções científicas de museus e universidades que contém espécies de anfíbios da região subtropical, para que ele colete dados. Além disso, o recurso também permitirá a aquisição de um computador com capacidade adequada para este processamento de dados.
“O financiamento do FUNBIO permite que a qualidade da minha pesquisa seja muito maior e que eu consiga responder as perguntas de forma muito mais refinada, com técnicas mais modernas e adequadas. E também permitir que eu colete dados em outras instituições e coleções científicas. Sem dúvida é uma oportunidade profissional muito grande para mim, para fazer essa pesquisa com qualidade, mas também para minha universidade, trazendo novos contatos e conexões dentro da ciência”, pontua o biólogo, que compartilha que a notícia da seleção veio justamente na semana do seu aniversário, “o maior presente possível”.