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A BR-319 no centro do debate sobre a Amazônia e seus habitantes
A BR-319 é uma rodovia de 877 quilômetros aberta durante a ditadura militar, que conecta as capitais de Porto Velho, em Rondônia, e Manaus, no Amazonas. O percurso cruza uma área extremamente sensível da Amazônia brasileira, repleta de Terras Indígenas e Unidades de Conservação. “A BR-319 é um artefato que desabou sobre as nossas cabeças nos anos de 1970, e por ser natural do município de Humaitá no Sul do Amazonas, eu convivi a vida inteira com muitas questões envolvendo a rodovia”, lembra a cientista amazônida Francisca Dioneia Ferreira, selecionada pelo Programa Bolsas FUNBIO – Conservando o Futuro por meio do Programa Fonseca Leadership (Programa Fonseca de Liderança, em tradução livre), criado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, sigla em inglês).
A pesquisadora já trabalhou na gestão de três unidades de conservação estaduais do Amazonas, as Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Igapó Açu e do Matupiri, e o Parque Estadual do Matupiri. Todas elas ao sul de Manaus, no entorno da rodovia.
Por conhecer de forma tão íntima a rodovia e seus impactos, Francisca decidiu se dedicar a entender melhor as redes socioambientais que orbitam a BR-319, com suas interações e desconexões organizacionais. “Minha história de vida me conduz na direção desse objeto de pesquisa”, resume a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em geografia com concentração em Território e Ambiente na Pan Amazônia da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).
“Tenho me deparado com uma grande diversidade de atores institucionais atuando na região, entretanto, observo um movimento exógeno nas iniciativas e apesar da narrativa de que atuam em rede, operam de formas isoladas e desconexas das demandas de base das comunidades. Por outro lado, os arranjos orgânicos articulados no real são ignorados e em muitos casos invisibilizados. Desta forma, minha pesquisa busca analisar as estratégias de coalizão e da ação dessas redes socioambientais no contexto da BR-319”, explica a pesquisadora.
A BR-319 se estende por cerca de 670km em seu trecho no estado do Amazonas, ao longo de nove municípios. Os recursos do Bolsas FUNBIO irão permitir que Dioneia expanda sua área de coleta de informações do lado amazonense da rodovia e dialogar com as comunidades no eixo da estrada.
“Ser selecionada me enche de esperança de que posso fazer uma jornada acadêmica muito mais potente, apoiada por essa instituição super respeitada que é o FUNBIO”, destaca a doutoranda.
O projeto de pesquisa vem num momento em que a rodovia está no centro de um debate – e disputa – sobre sua pavimentação, o que melhoraria as condições de tráfego, porém também poderia aumentar o acesso para o avanço do desmatamento e outros crimes ambientais no coração da Amazônia brasileira.
A pesquisadora destaca que espera responder questões importantes para o contexto das comunidades que vivem no entorno da BR-319, com “incidência política direta na agenda de conservação, sobretudo, no comando e controle ambiental no contexto da rodovia”.