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ARPA entrevista: detalhes sobre os desafios e conquistas do programa que inspira conservação de florestas paraoutros países
Com uma trajetória de destaque, Adriana Moreira, atualmente atua como Chefe da Divisão de Parcerias do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e , que apoia os países em desenvolvimento na implementação de projetos e soluções para as preocupações globais em relação à proteção dos ecossistemas e à biodiversidade. Adriana também lidera iniciativas com o Programa Fonseca de Lideranças em Conservação (Fonseca Leadership Program), que oferece bolsas e apoia pesquisas de campo na área de conservação da biodiversidade, e o Programa Global para Vida Silvestre (Global Wildlife Program – GWP), que abrange projetos em 32 países. Seu trabalho em finanças de conservação, desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas a levou a liderar importantes projetos em países como Brasil, Colômbia, México e Peru durante mais de duas décadas no Banco Mundial.
Entre suas maiores contribuições está a concepção e implementação do pioneiro Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA). Além disso, Adriana liderou o Programa de Paisagens Sustentáveis da Amazônia (ASL), promovendo a gestão integrada da paisagem e a conservação em sete países da Bacia Amazônica. Reconhecida internacionalmente, recebeu prêmios como o Chico Mendes Florestania e o “Development Impact Honors” do Tesouro dos EUA, sendo uma das responsáveis por posicionar a Amazônia no centro das discussões globais de sustentabilidade.
Em entrevista, Adriana compartilha detalhes sobre os desafios e conquistas do ARPA, destacando que o sucesso do programa está fundamentado em pilares sólidos. “O programa permanece de 2002 até hoje devido a três pilares fundamentais que o fortaleceram, uma visão de longo prazo com objetivos e metas claras; o arranjo institucional incluindo uma importante parceria público-privada, com apoio de doadores internacionais; e o enfoque em dois níveis governamentais (Federal e Estadual), . No início, enfrentamos dificuldades, mas, a partir de 2004, houve um grande impulso na criação de áreas protegidas, especialmente durante a primeira gestão da ministra Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente.”
Durante esse período, o programa alcançou avanços expressivos, com quase 25 milhões de hectares de áreas protegidas criadas. Segundo Adriana, o apoio político foi essencial: “Foi essencial contar com apoio das esferas governamentais: federal, estadual e municipal, porque a criação dessas áreas exige uma articulação política sólida. As Organizações Não-Governamentais (ONGs), também têm papel fundamental para que o programa alcance as áreas de atuação desses organismos. Com essa rede de apoio, o ARPA acontece”, aponta Adriana.
Um dos diferenciais do ARPA é o modelo de financiamento sustentável, que combina fundos públicos e privados. Adriana destacou a importância do Fundo de Transição, criado para garantir a sustentabilidade financeira das áreas protegidas até 2039. “O fundo de transição, um dos pilares de sustentabilidade financeira dessas áreas protegidas, foi um marco. Trabalhar na concepção desse fundo foi uma experiência única que trouxe muitos aprendizados, aplicados em vários outros países”
O mecanismo financeiro foi estruturado em parceria com especialistas e instituições internacionais. “Tivemos o apoio de várias instituições e especialistas. Por exemplo, o modelo financeiro foi desenvolvido com a ajuda de profissionais do setor financeiro dos Estados Unidos. A equipe do Goldman Sachs, que também foi doadora do projeto, contribuiu significativamente para estruturar esse mecanismo.”
O ARPA também inspirou iniciativas semelhantes em outros países, como Canadá, Costa Rica e Butão, através do modelo Project Finance for Permanence (PFP). “Criamos um modelo de custos e o que hoje chamamos de ‘PFP’. Esse modelo foi fundamental para o sucesso do programa. Ele permitiu estimar o tamanho do fundo necessário e planejar desembolsos de longo prazo.”
Adriana reforça que a meta é que as áreas protegidas sejam autossustentáveis até 2039: “As áreas protegidas são um bem público da nação brasileira. O desenho do mecanismo de sustentabilidade financeira baseia-se no orçamento governamental aliado à diversificação de fontes de recursos locais, como turismo e atividades extrativistas, complementados pelas doações do Fundo de Transição, que está previsto para encerrar em 2039. Até lá, o objetivo é que essas áreas se tornem autossustentáveis, por isso o nome: “Fundo de Transição”, destaca Adriana.
Com o avanço das mudanças climáticas e os alertas de desmatamento na Amazônia, programas como o ARPA se tornam ainda mais essenciais para a preservação do bioma e para a manutenção do equilíbrio ambiental global. Adriana acredita que o modelo pode servir como um exemplo replicável: “Hoje, há esforços internacionais, como o programa Enduring Earth, para replicar esse modelo em todos os continentes e regiões do planeta.”
Uma mensagem aos gestores
Em uma declaração direcionada aos gestores e comunidades das Unidades de Conservação (UCs) vinculadas ao ARPA, um importante reconhecimento foi feito àqueles que estão na linha de frente da preservação ambiental na região amazônica.
“Quero me dirigir especialmente aos gestores e às comunidades das UCs do ARPA. Vocês são os verdadeiros heróis que, diariamente, traduzem a missão e a visão de conservação a longo prazo da imensa biodiversidade das florestas e águas amazônicas”, destaca.
Adriana também enfatiza a gratidão pela dedicação e perseverança dos envolvidos nesse programa, considerado um exemplo global na proteção de florestas tropicais. Além dos gestores locais, o agradecimento se estendeu aos profissionais do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e das secretarias estaduais de meio ambiente dos nove estados amazônicos. “Minha admiração vai para todos que trabalham incansavelmente para garantir o bom funcionamento do programa. O planeta agradece! Viva o ARPA!”, conclui Adriana.
Além de seu trabalho prático, Adriana Moreira tem uma carreira acadêmica sólida, com doutorado em Ecologia pela Universidade de Harvard, experiência como professora na Universidade de Brasília e pesquisadora no Woodwell Climate Research Center. Também é fundadora e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e integra conselhos consultivos de fundações e organizações privadas, e a Rede de Mulheres Líderes Brasileiras pela Sustentabilidade.