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Conservação da biodiversidade e práticas de turismo
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, no Amazonas, destaca-se como um exemplo bem-sucedido de como o turismo de base comunitária (TBC) pode promover o desenvolvimento sustentável e a conservação ambiental. Criada em 2004, a RDS do Uatumã combina práticas de turismo sustentável, gestão ambiental e envolvimento ativo das comunidades locais para criar um modelo integrado que beneficia tanto a biodiversidade quanto a população local. O programa de monitoramento de quelônios conduzido pelo Programa ARPA – Áreas Protegidas da Amazônia contribui para o equilíbrio ecológico na reserva, que proporciona condições aquáticas para a população de tucunarés, que são uma das principais atrações da prática de pesca esportiva.
A RDS do Uatumã está localizada na região nordeste do estado do Amazonas, e abrange os municípios de São Sebastião do Uatumã e Itapiranga. Com uma área total de 424.430 hectares, a reserva é lar de aproximadamente 1,3 mil moradores distribuídos em cerca de 250 famílias, que vivem em 20 comunidades ribeirinhas situadas às margens dos rios Uatumã, Jatapu e seus afluentes.
Sob a gestão de Cristiano Gonçalves, o TBC na RDS do Uatumã coloca as comunidades ribeirinhas no centro das atividades turísticas. Essa abordagem inclui desde a recepção de turistas até a produção de alimentos e artesanato, gerando renda e fortalecendo a autoestima dos moradores. As iniciativas incluem vivências comunitárias, visitações às usinas de óleos essenciais e oficinas de manejo florestal, além de modelos diversificados de hospedagem, como pousadas comunitárias e familiares.
O turismo também atrai pescadores esportivos, especialmente durante a temporada de pesca do tucunaré, que ocorre de agosto a dezembro. Essa atividade movimenta a economia local, com moradores atuando como guias e oferecendo hospedagem. Para operar na reserva, as embarcações devem cumprir regulamentos rigorosos, como a presença de monitores residentes e registros emitidos pelo Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas).
“As comunidades têm controle e envolvimento efetivo na gestão e desenvolvimento do turismo, o que promove uma integração harmoniosa entre a economia local e a conservação ambiental”, explica o gestor. Essa abordagem não só gera renda, mas também fortalece a autoestima dos moradores, que deixam de ser coadjuvantes para se tornarem protagonistas.
Apesar dos avanços, a implementação do TBC na RDS do Uatumã enfrentou desafios significativos. Entre eles, o gestor Cristiano Gonçalves aponta a necessidade de organizar as comunidades, identificar as potencialidades locais e melhorar a infraestrutura de recepção. No entanto, os resultados têm sido inspiradores, servindo como referência para outras reservas.
“Os maiores aprendizados foram mostrar aos moradores que eles podem ser protagonistas do processo e capacitar as comunidades para atender às demandas do turismo, desde a recepção até a produção de alimentos locais para as pousadas”, afirma Cristiano.
O papel do ARPA na proteção da biodiversidade
O Programa ARPA – Áreas Protegidas da Amazônia desempenha um papel essencial no fortalecimento da RDS do Uatumã, mesmo sem um foco específico em turismo. Embora o ARPA não tenha um foco específico em turismo, suas ações têm contribuído para atrair visitantes na RDS Uatumã. Um exemplo disso é o manejo e conservação de quelônios, cuja soltura de filhotes se tornou um evento que encanta turistas e promove a conscientização ambiental. A implementação de programas de proteção aos quelônios têm mostrado benefícios que vão além da preservação das tartarugas.
Esses animais desempenham um papel crucial na manutenção do equilíbrio ecológico, especialmente na dispersão de sementes de plantas que regeneram as florestas ribeirinhas. Essas áreas, conhecidas como igapós e várzeas, são habitats essenciais para a reprodução de peixes como o tucunaré, que dependem das condições ambientais saudáveis para prosperar. Além disso, os quelônios ajudam a controlar algas e matéria orgânica nos rios, o que melhora a qualidade da água e beneficia diretamente os ecossistemas aquáticos.
A proteção desses animais também impacta positivamente a cadeia alimentar dos rios. Ao preservar habitats de desova e evitar práticas predatórias, como a captura ilegal de quelônios e a pesca excessiva, os programas de conservação asseguram a renovação dos recursos aquáticos. A presença de florestas saudáveis, regeneradas pela atividade dos quelônios, contribui para um ciclo hidrológico mais equilibrado, essencial para a manutenção da biodiversidade. Essas melhorias ambientais fortalecem populações de peixes, incluindo o tucunaré, que é uma espécie-chave para o ecossistema e uma das mais visadas pela pesca esportiva na região.
Além dos impactos ambientais, a proteção de quelônios também impulsiona o turismo sustentável, atraindo visitantes interessados em iniciativas de conservação. Isso gera novas oportunidades econômicas para as comunidades locais, que se tornam protagonistas no monitoramento e na gestão do território. A conscientização gerada por essas ações ajuda a reduzir a pressão sobre os recursos naturais e promove práticas de pesca mais responsáveis, garantindo que tanto quelônios quanto tucunarés possam continuar desempenhando seus papeis fundamentais no equilíbrio ecológico da RDS do Uatumã.
A pesca esportiva na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã é uma atividade de destaque, especialmente durante a temporada que se estende de agosto a 15 de dezembro. Nesse período, a reserva atrai pescadores de diversas regiões do Brasil e do exterior, interessados principalmente na captura do tucunaré. As comunidades locais desempenham um papel fundamental na condução da pesca esportiva na RDS do Uatumã. Elas atuam como protagonistas, oferecendo serviços de guia e hospedagem, o que promove o turismo de base comunitária e gera renda sustentável para os moradores.
Para operar na RDS do Uatumã, barcos-hotéis e pescadores esportivos devem obter o Certificado de Registro de Pesca emitido pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). Além disso, é obrigatório que cada embarcação tenha a presença de pelo menos um monitor residente na reserva durante as atividades de pesca esportiva. Em 2018, a RDS do Uatumã recebeu aproximadamente 1,4 mil visitantes, número que tende a aumentar com a crescente popularidade da pesca esportiva e do turismo sustentável na região, a partir das garantias de equilíbrio do ecossistema.
O modelo adotado na RDS do Uatumã é um exemplo de como o turismo sustentável pode ir além da geração de renda, promovendo uma relação harmoniosa entre desenvolvimento humano e preservação ambiental. O envolvimento ativo das comunidades, combinado com ações de conservação, garante um futuro promissor tanto para os moradores quanto para a rica biodiversidade da região.