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Amor de mãe para enfrentar os desafios do Pantanal
Uma relação de mãe e filhas. Cristiane Brigitte dos Santos, 42 anos, é assistente técnica de campo do Instituto Homem Pantaneiro, e a responsável por mais de 25 mil mudas que se desenvolvem nos viveiros construídos na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Acurizal, na Serra do Amolar (MS). O amor de mãe que Cristiane nutre pelas filhas é igual, sejam elas aroeiras (Astronium urundeuva), jacarandás (Jacaranda cuspidifolia), piúvas (Tabebuia heptaphylla), entre outras. E também um sopro de esperança em um Pantanal que sofre desde 2020 com períodos de seca, incêndios e os efeitos das mudanças climáticas. O ofício que exige paciência e resiliência é possível graças aos recursos recebidos pelo IHP, por meio do GEF Terrestre, projeto do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima sob gestão do FUNBIO.
Em outubro, a dor tomou conta de Cristiane. Parte das suas “filhas” sucumbiram ao fogo que atingiu a RPPN, justamente na área de 15 hectares destinada ao plantio das mudas que ela cuida nos viveiros da reserva.
“Estava de folga, mas acompanhei as imagens no grupo de mensagens, e foi muito triste. Foi um trabalho de três anos que o fogo consumiu em 20 minutos”, lembra ela.
A esperança logo tomou conta dessa curitibana que saiu do frio do Sul do Brasil para enfrentar os desafios climáticos, ainda mais intensos, do Pantanal.
“Não podemos nos abalar. A chuva veio em seguida e em alguns pontos que o fogo não chegou tão intenso há mudas rebrotando como de jacarandá, angico, aroeira e ipês”, conta ela.
E o Pantanal na vida de Cristiane foi amor à primeira visita. Ela deixou a advocacia para cursar zootecnia da Universidade Federal do Paraná. E a transição de carreira foi uma mudança radical. Sozinha, sem amigos e família, ela chegou a Corumbá (MS) e seguiu Rio Paraguai acima até se instalar na RPPN Acurizal, em setembro de 2021, ainda como estagiária do IHP. Em janeiro de 2022 já estava contratada.
“É a realização de um sonho estar aqui, mas é difícil também. Tive de trabalhar muito o diálogo. E hoje já me sinto muito mais segura, tenho esse espaço de atuação e uma voz mais ativa aqui dentro”, diz Cristiane.
Cada etapa do seu trabalho é permeada pela arte de cuidar. E ninguém tem dúvidas de que Cristiane é uma mãe daquelas que se envolve e luta pelas suas crias.
“O pessoal brinca: ‘nossa, você tem ciúmes das suas mudas’. Porque realmente a gente sabe o quanto esse processo realmente não é simplesmente colocar uma semente. São várias etapas, e ali dentro de cada etapa está o seu esforço. Um pedaço do coração da gente que vai em todos os processos”, diz ela.
A restauração do Pantanal é de médio e longo prazo. E não se faz nada sozinho. A natureza também tem seus modos de se reinventar.
““O processo de restauração ultrapassa o espaço que pegou fogo. Os animais são dispersores de sementes, chegavam na área das mudas e levaram sementes para outros locais”, diz. Toda essa biodiversidade a gente tem por conta deles. Estávamos recuperando uma área que provavelmente eles fizeram ser bem maior”, diz ela.