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Trilha apoia turismo rural sustentável e conservação na APA do Ibirapuitã, no Pampa
Novos caminhos são abertos para o desenvolvimento econômico, por meio do turismo rural sustentável, e a conservação do Pampa. A implantação da primeira etapa da trilha de longo curso Caminho do Pampa na Área de Proteção Ambiental (APA) do Ibirapuitã, no Rio Grande do Sul, avança a passos largos – e com esperança.
A equipe do projeto Pró-APA Sustentável trabalha para consolidar os 84 km da primeira etapa dos 170 km mapeados dentro da unidade de conservação (UC). A primeira etapa consiste na sinalização de rotas e instalação de locais de apoio em propriedades rurais.
“Identificamos 30 proprietários rurais que poderiam apoiar quem já percorre a trilha na natureza. Até o momento, 14 assinaram termo de adesão à iniciativa. Os demais devem fazer isso em breve”, conta o diretor-técnico da SAVE Brasil na Alianza del Pastizal e no Pró-APA Sustentável, Michael Carroll.
Em maio de 2022, houve uma sensibilização no município de Alegrete (RS) sobre a implantação do trecho norte da trilha. Em dezembro, foi inaugurado o primeiro trecho em Santana do Livramento (RS). Além dos dois municípios gaúchos, o Caminho do Pampa passará por Quaraí (RS) e Rosário do Sul (RS).
Nas últimas décadas, o bioma é ameaçado pelo uso intensivo de terras para agricultura, invasão de espécies exóticas – como o capim-annoni e o javali –, florestamento com pinus e eucalipto, uso indevido de pesticidas e sobrepastoreio, quando o pasto nativo é exposto ao pastoreio intensivo sem que haja suficiente recuperação da vegetação. Tal realidade não é diferente na APA apesar da proibição de conversão do campo nativo em lavoura desde 2008.
“A lavoura de soja entrou com força. Um dos fatores que explica essa propensão de plantar soja no Pampa é a mudança do clima, que fez com que incidisse mais chuva na região. Historicamente, o bioma era cenário de pastagens extensivas, sendo um dos poucos do planeta em que se faz possível produzir proteína animal aliada à conservação”, aponta o gestor da UC, Raul Coelho.
Apesar da inclinação regional para a prática da pecuária de forma sustentável – por ser benéfica à manutenção dos campos nativos –, existe o desafio para a geração de renda para o produtor rural.
“Tem gente que pensa que estar na unidade de conservação é problema – e não solução. Tentamos mostrar que para a pecuária ser efetivamente sustentável é necessário gerar renda com outras atividades, como acontece com o turismo rural sustentável. Somente ajudando a produzir e gerar renda poderemos conservar a biodiversidade local”, destaca Carroll.
Trilha e conservação
A APA do Ibirapuitã foi criada em 1992 para proteger parcela significativa do Pampa no Rio Grande do Sul, o único estado no Brasil onde é encontrado o bioma. São 316,8 mil hectares distribuídos nos quatro municípios gaúchos pelos quais passa o Caminho do Pampa. O Pampa responde por, somente, 2% do território continental brasileiro.
A UC tem atrativos turísticos e características marcantes, como paisagens naturais bem conservadas, relíquias arquitetônicas e históricas, animais exuberantes (como emas nos campos) e traços culturais peculiares – como a gastronomia local, o linguajar da fronteira e a figura do gaúcho sobre um cavalo.
Desde 2020, o Pró-APA Sustentável elabora e implementa planos de recuperação de áreas degradadas na APA do Ibirapuitã. O projeto promove o controle de espécies invasoras em 63 propriedades rurais, com a meta de recuperar 1,5 mil hectares de áreas degradadas ou severamente infestadas pelo capim-annoni (Eragrostis plana Nees) com o Método Integrado de Recuperação de Pastagens – Mirapasto, desenvolvido pela Embrapa. Além disso, atua na redução populacional do javali por meio de um programa de manejo de fauna exótica em Santana do Livramento.
O Caminho do Pampa está integrado à Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso. A segunda etapa da trilha vai conectar o Passo do Mineiro ao Catimbau, em direção a Alegrete (sul-norte), além de ser trabalhado a possibilidade de conexão à área protegida uruguaia Reserva Natural del Valle del Lunarejo, tombada como patrimônio natural pela Unesco e roteiro turístico internacional. A ideia é que isso ocorra em 2024, fazendo do Caminho do Pampa um mecanismo integrador regional, nacional e internacional.
“É nossa ambição deixar como legado [do projeto] uma associação de moradores engajada na manutenção da trilha e no desenvolvimento de atividades de turismo rural sustentável. Só cuida quem conhece. A trilha pode ajudar a sensibilizar sobre a imensa biodiversidade do Pampa”, afirma o coordenador nacional da Alianza del Pastizal pela SAVE Brasil e técnico no Pró-APA Sustentável, Pedro Pascotini.
O Caminho do Pampa foi idealizado pelo Conselho Gestor da APA do Ibirapuitã (CONAPA) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que iniciaram a implementação das trilhas com o apoio de instituições do CONAPA – como quilombolas, pecuaristas, instituições acadêmicas e organizações não governamentais – e de parceiros estratégicos, como o Exército Brasileiro.