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PARNA dos Campos Amazônicos aplica técnicas de manejo do fogo para controle de queimadas
Instrutor de brigada e investigador das causas e origens de incêndios florestais, o gestor Bruno Contursi Cambraia, do Parque Nacional dos Campos Amazônicos – que abrange os estados de Rondônia, Amazonas e Mato Grosso – é testemunha de uma progressiva mudança de paradigma no Cerrado: o fogo, velho amigo do bioma, frequentemente protagoniza incêndios de grandes proporções que destroem a vegetação em vez de beneficiá-la.
Com o objetivo de restabelecer o equilíbrio da paisagem, em 2015 ele foi aos Estados Unidos para aprender mais sobre o Manejo Integrado do Fogo (MIF). Acompanhou de perto as queimas prescritas realizadas pelo Serviço Florestal Americano em áreas de savana da Flórida. Lá, a técnica é utilizada há cerca de 50 anos para controlar a vegetação acumulada e evitar que se tornem alimento para grandes incêndios. Não tardou a levar a experiência para o PARNA dos Campos Amazônicos, uma das UCs apoiadas pelo ARPA e que abriga fauna e flora do Cerrado em trechos típicos de floresta.
Em 2016, realizou as primeiras queimas prescritas num total de quase dois mil hectares – pouco menos de 1% da área de Cerrado do Parque. Um começo tímido, porém suficiente para observar mudanças positivas na paisagem, como a floração do capim rasteiro, ativada pela passagem de calor, e o rebrote da vegetação. Este, por sua vez, atraiu os veados, que costumavam evitar a área em função do mato alto. “O fogo é uma necessidade ecológica do Cerrado, e desempenha um importante papel na cadeia alimentar”, explica Cambraia.
Mais confiante e experiente, a equipe de brigadistas chefiada por ele cobriu uma área de 12,2 mil hectares em 2017. Em junho, finalizaram a terceira bem-sucedida temporada de queimas prescritas, desta vez, com 23,7 mil hectares. Segundo o gestor, o segredo é aplicar a queima durante a época mais úmida do ano, entre o final do período de chuvas e o início da seca. “É uma janela de mais ou menos 60 dias, quando a vegetação está mais resistente e apenas o mato antigo acumulado é eliminado”, explica. Ou seja, realizando a queima controlada antes do período mais seco, diminui-se a possibilidade de ocorrência de grandes incêndios florestais.
Além disso, neste período a alta umidade e a baixa temperatura dão conta de extinguir o fogo naturalmente à noite. “Por ser um elemento natural, o fogo nos garante um manejo com o menor impacto possível”, revela.
Medo do fogo
Cambraia conta que as primeiras pesquisas sobre o manejo do fogo no Cerrado brasileiro datam da década de 1980, com um auge de produção científica nos anos 2000. No entanto, a técnica sempre encontrou resistência por aqui em virtude de uma política de ‘fogo zero’, enraizada no medo cultural dos grandes incêndios e dos estragos associados a ele. “Uma vez que há ocupação humana nessas áreas, muitas vezes irregular, o poder público decidiu excluir o fogo para garantir a proteção do patrimônio, da segurança das pessoas e dos ambientes naturais sensíveis”, explica.
Ele diz que, hoje, a orientação é apagar qualquer fogo que seja detectado na mata – o que tende a ir mudando aos poucos. “A interferência no ambiente cria um acúmulo de biomassa, esse combustível natural capaz de transformar pequenas queimadas em incêndios de grandes proporções”, diz. Segundo Cambraia, basta a queda de um raio em uma vegetação seca para destruir milhares de hectares. “Nos últimos anos esses eventos se intensificaram em quantidade e intensidade, não somente aqui, como no mundo”.
Por isso, o fogo prescrito é uma das soluções para prevenir os incêndios destrutivos que fragilizam ainda mais o Cerrado. E contra fatos não há argumentos: nas áreas do Parque em que o MIF foi empregado, não houve mais ocorrência de incêndios de alta intensidade.
Considerado hoje referência em Manejo Integrado do Fogo na Amazônia, Cambraia já participou de vários treinamentos práticos, como nos Parques Nacionais da Serra da Canastra e das Sempre-Vivas, em Minas Gerais. Na Amazônia, realizou queimas em outras duas unidades de conservação vizinhas: o Parque Nacional Mapinguari, apoiado pelo ARPA, e a Estação Ecológica de Cuniã – ambas situadas na divisa entre o Amazonas e Rondônia.