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Programa de bolsistas do GEF MAR promove pesquisa e inovação na gestão da pesca no Brasil
O Programa de Bolsas de Pesquisa apoiado pelo GEF MAR desempenha um papel de grande relevância na pesquisa e inovação na gestão pesqueira, onde um dos objetivos é o fomento da pesca sustentável, por meio de análises científicas. A duração do programa está prevista até Junho de 2026. O trabalho que vem sendo desempenhado pelos bolsistas do GEF Mar é fundamental para subsidiar a gestão das unidades de conservação, através do monitoramento e análises da dinâmica da pesca nas unidades de conservação de uso sustentável
A identificação das espécies capturadas, por meio do Projeto de Pesquisa do Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade – PROGRAMA MONITORA – Pesca e Biodiversidade Marinha Associada (PNMB1), relacionado à bolsa de pesquisa apoiada pelo GEF MAR, foi realizada utilizando câmeras instaladas em embarcações-piloto, que capturaram cerca de 1.200 imagens por espécie, com foco nas 10 a 12 espécies mais frequentemente capturadas pelas frotas de espinhel pelágico.
As imagens foram analisadas pelo pesquisador e bolsista do programa, Mariano Cabanillas Torpoco, sob coordenação do orientador da pesquisa, Julio Rosa. Houve ainda a validação dos dados e preparação do material para ser utilizado com o apoio da inteligência artificial, para aumentar a precisão das identificações futuras, realizada por especialistas para assegurar a confiabilidade das informações coletadas.
Para avaliar a pesca nas unidades de conservação de uso sustentável dos arquipélagos de São Pedro e São Paulo e de Trindade e Martim Vaz, e fornecer subsídios fundamentais para a gestão da pesca na região, foram realizadas análises que incorporaram dados dos Mapas de Bordo e do monitoramento remoto das embarcações pesqueiras. O monitoramento remoto das embarcações permitiu caracterizar a dinâmica espacial da pesca, e os Mapas de Bordo registraram todas as capturas realizadas na região desde a criação das UCs, inclusive as espécies ameaçadas e fauna acompanhante.
Estas análises consideraram variáveis como a frequência de capturas, sazonalidade e localização geográfica, e foram complementadas por análises espaciais que mapearam a distribuição das espécies nas áreas de pesca. Tais análises permitem entender a dinâmica populacional e estimar as capturas das espécies-alvo e fauna ameaçada com maior precisão.
A pesquisadora e bolsista do GEF MAR, Angela Zaccaron, reforça a importância do constante monitoramento das embarcações pesqueiras e dos mapas de bordo para o acompanhamento das espécies ameaçadas e fauna acompanhante, gerando informações preciosas para apoiar ações de conservação das espécies:
“O Tubarão-azul é capturado, sendo fauna acompanhante, que vem principalmente na frota que atua no Sul, na UC de Trindade, sendo essa espécie permitida para captura. Mas para outras espécies, não há a permissão para pesca, e, por meio do mapa de bordo, é possível identificar essas espécies e acompanhar se elas foram devolvidas, como o tubarão-raposa e tubarão-martelo, que são espécies ameaçadas e são capturadas, mas são devolvidas”, explica ela.
As interações ecológicas entre as espécies-alvo, como albacoras e espadarte, que são tipos de peixes, e a fauna acompanhante, como tubarões e tartarugas, foram investigadas para entender como essas espécies coexistem nos ecossistemas marinhos. O estudo mostrou que algumas espécies de fauna acompanhante não são capturas ocasionais, mas possuem uma abundância natural significativa nas áreas de pesca estudadas.
Compreender essas interações é essencial para avaliar o impacto da pesca nas comunidades biológicas e na biodiversidade marinha.
Efeitos das Mudanças Climáticas na Distribuição e Abundância das Espécies
As mudanças climáticas representam um desafio crescente para a pesca sustentável. Alterações na temperatura e acidez dos oceanos podem afetar a distribuição e a abundância das espécies estudadas, alterando seus padrões de migração e reprodução. Essas mudanças podem tornar algumas espécies mais vulneráveis à captura, enquanto outras podem migrar para novos habitats, complicando ainda mais a gestão pesqueira e a proteção da biodiversidade.
As espécies-alvo, como albacoras e espadarte, são particularmente vulneráveis à pesca devido a aspectos específicos de sua história de vida, como taxas de crescimento lentas, maturidade sexual tardia e baixa fecundidade. Esses fatores tornam as populações menos resilientes às pressões pesqueiras, aumentando o risco de sobrepesca e declínio populacional.
Impactos da Pesca Seletiva na Estrutura Populacional
A pesca seletiva, que visa capturar determinadas espécies de maior valor comercial, pode desestabilizar a estrutura populacional dessas espécies ao remover indivíduos reprodutores ou jovens em grande número. Essa prática pode reduzir a diversidade genética e comprometer a capacidade das populações de se adaptarem a mudanças ambientais ou às mudanças causadas pela ação humana, como a sobrepesca e a destruição de habitats.
A pesca de espinhel pelágico é uma importante fonte de renda para comunidades pesqueiras, como as frotas de Natal e Areia Branca (RN). No entanto, as variações na disponibilidade das espécies e as mudanças nas políticas de pesca podem afetar diretamente a sustentabilidade econômica dessas comunidades. O ICMBio, em parceria com o GEF MAR, busca implementar práticas de pesca sustentável que garantam tanto a conservação dos recursos naturais quanto o sustento das populações locais.
Influência das Políticas Públicas nas Práticas de Pesca
As políticas públicas de pesca, como a Instrução Normativa MPA/MMA nº 10/2010, desempenham um papel crucial na regulação das práticas de pesca e na composição das capturas. O estudo revelou a necessidade de revisar essas normativas para refletir melhor a realidade das capturas e promover uma gestão mais eficiente dos recursos pesqueiros, incluindo a unificação das autorizações de pesca de espinhel para albacoras e espadarte.
Entre as medidas sugeridas para garantir a sustentabilidade da pesca de espinhel pelágico estão a revisão das espécies-alvo, a implementação de práticas de pesca de baixo impacto, a criação de áreas de proteção marinha e o fortalecimento das políticas públicas de pesca. O monitoramento contínuo e o uso de tecnologias, como câmeras e sistemas de rastreamento, são fundamentais para alcançar esses objetivos.
As novas tecnologias, como o uso de câmeras para monitoramento e sistemas de inteligência artificial, têm o potencial de aumentar a seletividade da pesca, reduzindo capturas indesejadas e minimizando os impactos ambientais. A implementação dessas tecnologias, em combinação com políticas eficazes, pode transformar a pesca em uma atividade mais sustentável e responsável.
Julio Rosa, orientador do Programa de Bolsistas, ressalta a importância da tecnologia nas ações realizadas pelo programa:
“O Mariano (um dos pesquisadores e bolsista do programa), analisa todas as informações recebidas pelos mapas, por meio de tecnologias, permitindo ter um olhar mais focado em cada uma das frotas, entendendo onde elas pescam mais e quais as espécies, tendo uma visão mais estratégica. Essa atuação está sendo intitulada como Iniciativas Inovadoras na Gestão da Pesca, tendo as embarcações atuantes na área como parceiras, pois elas buscam conseguir alcançar mercados mais lucrativos, como os Estados Unidos e a Ásia, por exemplo”, diz ele.
O Programa de Bolsas de Pesquisa do GEF MAR, em parceria com diversas instituições, está liderando o caminho para um futuro mais sustentável para a pesca no Brasil, combinando pesquisa científica, inovação tecnológica e participação comunitária para enfrentar os desafios de um oceano em mudança.