FLORESTA VIVA

Restauração ecológica dos biomas brasileiros com recursos do Fundo Socioambiental do BNDES e de instituições apoiadoras

FUNDO DA AMAZÔNIA ORIENTAL

Iniciativa inovadora para uma economia sustentável e de baixo carbono

CONSÓRCIO AMAZÔNIA LEGAL

9 governos unidos pelo desenvolvimento sustentável no bioma

REM MATO GROSSO

Iniciativa viabilizada pelos Governos da Alemanha e Reino Unido remunera serviços ambientais baseada em resultados

ARPA

O maior programa de conservação de florestas tropicais do planeta celebra 20 anos

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Postado dia 28 março 2024

Espaço manguezal

Prestes a comemorar seus 40 anos de existência, a Área de Proteção Ambiental (APA) Guapimirim em breve vai ganhar um presentão: o Espaço Manguezal. Projetado para ser um prédio anexo à sede da unidade, o local será de uso múltiplo: reuniões, oficinas e encontros de educação ambiental são algumas atividades previstas para o novo espaço, que também servirá como um centro de visitantes e abrigará uma exposição permanente sobre a região – que guarda a maior área de manguezal conservado do estado do Rio de Janeiro, no fundo da Baía de Guanabara.  “Já temos uma infraestrutura bacana de uso convencional, que abriga todo nosso escritório onde trabalham cerca de 20 pessoas. Faltava algo mais interessante, onde pudéssemos receber os visitantes, realizar encontros. Então teremos mais 300 metros de área construída, e tudo de forma sustentável”, explica Mauricio Barbosa Muniz, que é chefe-substituto do Núcleo de Gestão Integrada Guanabara (NGI Guanabara) – instância administrativa do ICMBio responsável pela APA Guapimirim e também pela Estação Ecológica (ESEC) Guanabara.  O novo prédio será erguido com materiais não convencionais, na busca de equilíbrio térmico que dispense o uso de ar condicionado no dia a dia. Também terá reaproveitamento de água da chuva e destinação de efluentes para um biodigestor. A previsão é que até o aniversário da APA Guapimirim, no dia 25 de setembro, uma primeira etapa do Espaço Manguezal já esteja pronta para a celebração. Texto originalmente produzido pelo jornalista Bernardo Camara para a newsletter “Linhas do Mar” para divulgação do Projeto de Apoio à Pesquisa Marinha e Pesqueira, Projeto Educação Ambiental e Projeto Apoio a UCs.

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Postado dia 28 março 2024

Conhecer para conservar

Nos últimos dois anos, uma força-tarefa de cientistas iniciou um novo capítulo na história dos tubarões e raias marinhos que ocorrem em mares fluminenses: quatro iniciativas apoiadas pelo Projeto Pesquisa Marinha e Pesqueira driblaram um histórico vazio de dados e chegaram a conhecimentos inéditos sobre os animais – um passo fundamental para sua conservação. Do pouco que se sabia sobre os elasmobrânquios – como é chamado este grupo de peixes – uma coisa era certa: a sobrepesca é a principal responsável pelo declínio de 80% na abundância dessas espécies. Foi a partir de constatações como esta que a Sociedade Brasileira para o Estudo de Elasmobrânquios (SBEEL) começou a fazer pressão, ainda na década de 2000, para que providências fossem tomadas. Afinal, das cerca de 900 espécies conhecidas mundialmente, pelo menos 150 ocorrem no Brasil. Anos de mobilização levaram, finalmente, ao Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação dos Tubarões e Raias Marinhos Ameaçados de Extinção, publicado em 2014. Pela primeira vez, um documento reunia dezenas de ações e objetivos específicos para contornar aquele cenário. Mas o vaivém de governos, crises institucionais e a pandemia da COVID-19 prejudicaram muito o avanço das metas. No estado fluminense, um novo fôlego veio em 2022, quando o Projeto de Apoio à Pesquisa Marinha e Pesqueira colocou na rua um edital voltado exatamente para contribuir com as atividades previstas no PAN. Nesta região da costa, são pelo menos 68 espécies de tubarões e 39 de raias conhecidas até o ano de 2019. “Este foi o primeiro financiamento exclusivamente focado em tubarões e raias que conheci no Brasil. E chegou em boa hora”, afirma Mariana Alonso, bióloga marinha na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora da iniciativa Ecoshark, uma das contempladas pelo edital. Sensibilização Com os recursos, os pesquisadores puderam se debruçar sobre o tema e perceberam que os animais estão mais próximos do que se poderia imaginar. A partir de pescas incidentais e num trabalho em conjunto com colônias de pescadores, amostras dos animais começaram a chegar de praias populares como Barra da Tijuca, Recreio, Grumari e até Copacabana. Com o uso de rastreadores por satélite, também foi possível entender melhor não só a distribuição dos tubarões e raias, mas também sua movimentação ao longo do ano. A proximidade com as atividades humanas, porém, revelou outros impactos além da pesca. Servidora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a bióloga Rachel Ann Hauser Davis coordenou a iniciativa Efeitos de contaminantes persistentes e petrogênicos na saúde e resiliência de raias e tubarões, e implicações para a conservação. Por trás do longo título, um dos objetivos da equipe era descobrir se a saúde dos animais vem sendo afetada por pesticidas, metais, medicamentos e outros produtos químicos presentes no mar. Para entender melhor os impactos, o time de pesquisadores analisou a presença dessas substâncias em diferentes tecidos, como músculo, cérebro, fígado, rim e pâncreas. “Descobrimos que todos os animais estão muito contaminados, sofrendo significativamente com as atividades humanas. Encontramos contaminantes até no útero das fêmeas, o que significa que os filhotes já nascem contaminados”, diz Rachel. E se é ruim para eles, é ruim para as pessoas – que muitas vezes consomem carne de elasmobrânquios com o nome genérico de cação, sem ao menos saber se estão comprando uma espécie ameaçada ou de venda proibida. “Fizemos cálculos de risco humano e vimos que muitos elementos de metais, por exemplo, estão acima dos limites estabelecidos como seguros pela ANVISA. Inclusive, existe a possibilidade do desenvolvimento de câncer por meio do consumo de certas substâncias encontradas nos tecidos”, diz Rachel. Os novos dados apenas reforçam uma preocupação já apontada pelo Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação de Tubarões e Raias Marinhos: a necessidade de sensibilizar a população e os pescadores sobre as ameaças que esses animais vêm enfrentando. Todas as iniciativas contempladas pelo Projeto Pesquisa Marinha incluíram atividades nesse sentido, resultando em uma série de cartilhas, rodas de conversa, minidocs e outros materiais de comunicação e diálogo. Novos rumos O esforço coletivo inédito voltado para este grupo de animais teve um importante momento de encontro, trocas e celebração no Seminário de Encerramento do edital, que aconteceu entre os dias 27 e 29 de fevereiro. Representantes das quatro iniciativas compartilharam, cada um, os avanços e resultados de seus projetos e todos vislumbraram um futuro mais positivo para os elasmobrânquios. “Só tenho elogios ao seminário. Foi muito rico conhecer e ver o que os outros projetos conseguiram fazer ao longo desses dois anos. Foi um ponto de partida para que os grupos de pesquisa continuem interagindo e se fortaleçam cada vez mais", diz Rachel, da Fiocruz. "Quanto mais os pesquisadores conversarem, melhor para a conservação. Ciência não se faz sozinho: precisamos de colaboração”. As trocas realizadas durante o seminário já tiveram sua primeira ação concreta: a partir dos dados e resultados compartilhados ali, um relatório técnico foi construído e enviado à comissão que faz a gestão do PAN, a fim de contribuir com as ações previstas para os próximos anos. Analista de recursos pesqueiros da Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (FIPERJ), Luana Borde esteve no seminário e também ficou satisfeita com o que viu. “A troca que aconteceu ali permitiu a reflexão sobre o que fazer com todo aquele conhecimento. Foi um encontro multidisciplinar com respeito, valorização das experiências e com um único objetivo: a conservação dos tubarões e raias, sem desconsiderar a importância deles dentro da sociedade humana, visto a relevância que a pesca tradicional tem para o Brasil”, diz. “Não existe avanço para a conservação se não tivermos embasamento de informação. Não há como propor políticas públicas, regulamentação, alternativas e ordenamento pesqueiro se não tivermos informações sobre como as pressões estão ocorrendo, que populações são essas, se estão saudáveis ou doentes. Tudo isso só é possível com incentivo à pesquisa”, afirma Luana. “Estou bem animada com o rumo que as coisas estão tomando”. Texto originalmente produzido pelo jornalista Bernardo Camara para a newsletter “Linhas do Mar” para divulgação do Projeto de Apoio à Pesquisa Marinha e Pesqueira, Projeto Educação Ambiental e Projeto Apoio a UCs.

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Postado dia 28 março 2024

Raiz forte

Vinte horas seguidas. Esta é a carga horária que Queila Lara da Conceição encarou inúmeras vezes trabalhando com turismo de massa na Ilha Grande, um dos principais destinos da Costa Verde, no Rio de Janeiro. “Ou você vive para trabalhar ou para cuidar da família”, diz ela. Nascida e criada na maior ilha marítima do estado fluminense, Queila desistiu daquela toada há alguns anos, justamente para conseguir cuidar dos filhos. Mas em breve, ela estará novamente às voltas com o turismo. Só que desta vez, sem sacrifícios: “Agora vai ser da forma como a gente sempre sonhou”, diz. Há 20 anos vivendo na Enseada das Estrelas, um dentre tantos territórios caiçaras espalhados pela Ilha Grande, Queila conheceu o conceito de Turismo de Base Comunitária (TBC) em 2017, numa visita que fez a uma comunidade tradicional em Paraty. Acostumada com um ritmo frenético e incessante de trabalho, seu olho brilhou quando percebeu que havia formas mais justas e respeitosas de receber e guiar visitantes.  Voltou para casa com a cabeça borbulhando e aos poucos a ideia foi ganhando corpo entre os membros da Associação de Moradores e Pescadores de Enseada das Estrelas (AMPEE), da qual ela é vice-presidente. O pontapé definitivo veio em 2022, quando o FUNBIO, por meio do Projeto Educação Ambiental, lançou um edital com o objetivo de fomentar o TBC em comunidades pesqueiras no estado fluminense. A AMPEE foi selecionada e, depois de um ano e meio de trabalho, Queila e seus conterrâneos estão prestes a inaugurar quatro roteiros turísticos construídos e liderados pela própria comunidade.  “Hoje, o TBC para mim significa muito mais do que fonte de renda. Com ele a gente fortalece as pessoas do território e elas podem atuar dentro de suas próprias capacidades”, diz, ressaltando que a lógica ali não é do lucro para poucos, mas da divisão justa para todos. “Ninguém vai precisar passar o dia cozinhando 20 quilos de feijão, pois os visitantes vão almoçar em vários restaurantes. Assim, todo mundo se beneficia”.  Foi desta forma, coletivamente, que a AMPEE construiu a iniciativa Enseada das Estrelas e suas Raízes, envolvendo 7 comunidades vizinhas e beneficiando mais de 150 pessoas, a maioria mulheres. O primeiro passo foi olhar ao redor para identificar todas as riquezas naturais e culturais que podem ser vivenciadas naquele pedaço de chão e mar. “Fizemos uma cartografia social dos saberes para colocar no mapa tudo o que é importante para nós”, conta Queila. Na metodologia da cartografia social, os mapas são construídos de forma participativa. Em vez de informações técnicas, eles trazem o cotidiano de uma comunidade, os elementos que ela própria considera relevantes. E aí entram não só as paisagens deslumbrantes do local, mas também as árvores centenárias que oferecem fruta e sombra às pessoas, o cais onde as famílias se reúnem com as crianças para se banhar, as histórias contadas por antigas cozinheiras ou artesãs e uma infinidade de outras vivências caiçaras. “Esse processo foi muito interessante, pois fomos percebendo a importância que têm as nossas casas, o nosso dia a dia”, diz.   O passo seguinte foi justamente materializar essas vivências em diferentes roteiros turísticos pela Enseada das Estrelas. As rotas já estão prontas e serão testadas ainda em abril, para que no mês seguinte comecem as divulgações oficiais nas redes da AMPEE. Mas Queila avisa que a experiência não é para qualquer um: “A gente quer chegar a um público de turistas que saiba valorizar e respeitar a nossa história”.  Mulheres em movimento  A cerca de 400 quilômetros dali, no continente, um grupo de pescadoras também está aprendendo cada vez mais a valorizar suas vivências e saberes. É no distrito de Atafona, em São João da Barra (RJ), que a Cooperativa Arte Peixe abre os caminhos rumo ao Turismo de Base Comunitária. Ali, cerca de 150 mulheres já foram impactadas pela iniciativa Atafona em Movimento, que ao longo de 18 meses organizou uma série de oficinas formativas e eventos culturais para fortalecer a identidade e a autoestima das pescadoras, além de fomentar o trabalho em rede.  “Nosso grande objetivo é fazer com que as mulheres na pesca consigam se enxergar como empreendedoras. Mostrar que além de ajudar o marido em casa, elas também podem ser donas do seu próprio negócio”, diz Fernanda Pires, atual presidente da Cooperativa Arte Peixe. É neste sentido que as oficinas têm contribuído: preparando o terreno para que o TBC possa virar uma realidade no futuro.  Realizadas em parceria com a organização local Instituto de Agroecologia e Meio Ambiente (Iama) e com a prefeitura de São João da Barra, as aulas práticas foram do artesanato à gastronomia, mas também passaram por etapas de capacitação em empreendedorismo, cooperativismo, boas práticas e até precificação de produtos.  O projeto também organizou seis eventos culturais na Praça de Nossa Senhora da Penha (a principal da cidade), para estimular ainda mais as trocas entre as participantes e, de quebra, aproveitar para expor os artesanatos e comidinhas feitas pelas empreendedoras. Não à toa, é ali que fica a sede e o quiosque da cooperativa, que também ganhou um fogão industrial, freezer, utensílios de cozinha, além de cadeiras e mesas com guarda-sol. Tudo novo: quase como um anúncio das boas novas que estão por vir.  “Quando as pessoas me perguntam o que significa o Atafona em Movimento, a primeira resposta que vem à minha cabeça é visibilidade”, diz Fernanda Pires. “As pessoas não conheciam a cooperativa, apesar de ela já ter seus 18 anos de existência. Os eventos e as oficinas foram uma forma de trazer as pessoas para perto, falar sobre o que fazemos, convidar mais mulheres a fazer parte. A gente passou a se sentir mais importante”, diz.  E se antes as próprias cooperativadas tinham alguma dúvida sobre sua capacidade de mobilizar e encantar as pessoas com seu trabalho, parece que agora isso é página virada. “Depois que o projeto terminar, queremos continuar fazendo nossos eventos. Vimos que temos potencial para trazer público, movimentar o território. Já estamos até pensando em produzir um Festival de Frutos do Mar”, conta Fernanda, animada e cheia de sonhos pela frente.   “O projeto significou essa virada de chave dentro de nós: o turismo de base comunitária pode e deve acontecer. E somos nós mesmas as protagonistas desse movimento”. Texto originalmente produzido pelo jornalista Bernardo Camara para a newsletter “Linhas do Mar” para divulgação do Projeto de Apoio à Pesquisa Marinha e Pesqueira, Projeto Educação Ambiental e Projeto Apoio a UCs.

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